Em 7 de abril, os médicos brasileiros mais uma vez darão um grito de alerta em defesa dos direitos da população à assistência de qualidade. Em todo o país, haverá protestos exigindo o acesso pleno dos pacientes ao atendimento dos planos de saúde.
A justificativa das manifestações é que a situação na saúde suplementar se agrava a cada dia. Dias atrás, por exemplo, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) divulgou seu ranking de reclamações de 2013. Os planos, como de costume, permanecem com o vexaminoso primeiro lugar. Na sequência, figuram serviços financeiros, produtos e telecomunicações.
As queixas são recorrentes: negativa de cobertura, reajustes abusivos e descredenciamento da rede assistencial, além dos reajustes. Enfim, um quadro bem semelhante ao apontado em pesquisa do Datafolha de 2013, encomendada pela Associação Paulista de Medicina, na qual 8 em cada 10 usuários de planos relataram problemas como dificuldade para a marcação de consultas, falhas no atendimento em pronto-socorro, dificuldades para a realização de exames, cirurgias e procedimentos de maior custo, entre outros.
Há quinze anos, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, a APM, o Sindicato dos Médicos e as sociedades de especialidades promoveram uma campanha publicitária com o seguinte slogan: “Tem plano de saúde que enfia a faca em você e tira o sangue dos médicos”. Desde lá, não vimos mudanças no panorama, a despeito das frequentes denúncias de médicos, órgãos de defesa do consumidor, hospitais e pacientes.
Os médicos, aliás, são tão vítimas quanto os pacientes. Também segundo o Idec, entre 2005 e 2013, houve reajustes de até 538,27% em planos de saúde coletivos. Os profissionais de medicina, de 2000 até agora, tiveram cerca de 60% de recomposição, diante de um IPCA de 99,86%.
Para agravar o quadro, as empresas da saúde suplementar atacam o que há de mais sagrado para os médicos: a autonomia na relação com os pacientes. Pesquisa de 2012, do Datafolha, mostra que 9 em cada 10 profissionais reclamam de interferências dos planos no dia a dia dos consultórios. São pressões para reduzir exames e outros procedimentos, reduzir internações, acelerar altas, enfim, uma série de abusos prejudiciais ao correto exercício da medicina e aos pacientes.
É em oposição a tais absurdos que os médicos brasileiros se manifestarão em 7 de abril. Em São Paulo, suspenderemos a prestação de serviços eletivos aos planos de saúde, mantendo somente os atendimentos de urgência e emergência. Para preservar os pacientes, estamos orientando a todos os nossos colegas que antecipem as consultas agendadas para essa data, deixando, assim, sua agenda em branca para participar dos protestos.
Em nosso Estado, daremos um tapa com luva de pelica nas más empresas de planos. Já que eles tiram nosso sangue na marra durante todo o ano, teremos uma ação bem simbólica em 7 de abril. Por conta própria, os médicos estarão doando sangue espontaneamente aos pacientes num posto montado na Associação Paulista de Medicina, pois eles, sim, merecem todo o nosso esforço e respeito.
João Ladislau Rosa, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo