Caio César Lima, de 26 anos, tem sido um herói nos últimos dias nas duas profissões que exerce. O jogador do 4 de Julho (PI) foi o responsável por marcar o gol que classificou o time semana passada para a segunda fase da Copa do Brasil. Mas quase não houve tempo para comemorar porque além do futebol, ele precisa se concentrar no importante trabalho como profissional de saúde em um hospital que atende vítimas da covid-19.
A rotina intensa de Caio não se resume a apenas dois empregos. Envolve também dois Estados diferentes. O zagueiro treina pela manhã no 4 de Julho, da cidade de Piripiri (PI), e depois viaja de carro por mais de uma hora até Tianguá (CE). No segundo emprego, Caio troca o uniforme pela roupas brancas, luvas e máscaras para trabalhar como fisioterapeuta no setor do hospital voltado a pacientes com o coronavírus.
Caio é um dos responsáveis pela importante tarefa de cuidar da recuperação da parte respiratória de quem foi acometido pela doença. "O trabalho tem sido muito intenso na pandemia. Geralmente no hospital eu entro meio dia e só consigo sair umas 22h. Tem sido muito movimentado e cansativo para todos nós da área de saúde", disse, ao Estadão.
A rotina dupla não é novidade para ele. Desde os tempos de faculdade o futebol e a fisioterapia foram paixões que ele procurou conciliar. O esforço em não desistir do sonho de jogar futebol nem de abrir mão do trabalho essencial de atender vítimas da pandemia lhe rendeu um prêmio inesquecível semana passada. O 4 de Julho conseguiu pela primeira vez na história passar da fase inicial da Copa do Brasil ao ganhar do Confiança (SE) por 1 a 0. Caio marcou o gol da vitória aos 47 minutos do segundo tempo e ficou emocionado.
Na próxima fase, o time do zagueiro e fisioterapeuta vai enfrentar o vencedor do jogo entre Sergipe e Cuiabá. "Foi inesquecível para mim. Foi a primeira vez que o clube se classificou. Por eu ser nascido na cidade, foi ainda mais especial. Quando era criança, fui torcedor. Agora, sou jogador e represento Piripiri. A ficha ainda não caiu", comentou.
Caio é o único atleta do clube a já ter sido vacinado contra a covid-19. Por trabalhar na área de saúde, ele recebeu as duas doses do imunizante. "Eu sempre falo para os jogadores: Tomem cuidado com a doença. Mas acho que no futebol estamos mais seguros porque somos testados com muita frequência. Como estou com uma rotina muito pesada no hospital, jogar futebol para mim é uma forma de relaxar", afirmou.
A rotina dupla implica também em algumas situações difíceis. Caio tem problemas para cumprir alguns dos plantões de fim de semana por causa dos jogos. Por isso, ele pretende pedir demissão do hospital em breve, para focar na carreira de jogador. A jornada diária no auxílio aos pacientes e as poucas horas de sono têm pesado. Pelo menos, ele reage com bom humor às situações curiosas.
No hospital, diversos colegas sempre lhe pedem camisas ou querem saber como foram os jogos. Nos treinos do 4 de Julho, Caio é alvo de brincadeiras. "Quando eu chego para treinar o pessoal brinca que tem de ficar longe de mim para eu não transmitir a doença. Alguns até me chamam de covid e tal. Mas eu levo na boa", contou.