O PMDB faz parte da base aliada, mas muitas vezes não se comporta como tal, criticou o governador do Ceará, Camilo Santana, um dos cinco governadores eleitos pelo PT em 2014, em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Na avaliação dele, o PMDB pensa muito mais no espaço que ocupa no governo federal do que no projeto para o Brasil. Santana avaliou ainda que a crise pela qual a presidente Dilma Rousseff passa hoje é fruto de uma oposição muito mais acirrada e de uma tentativa que há de desestabilizar o governo dela.
“O PMDB faz parte da base aliada, mas muitas vezes não se comporta como base aliada. Essa é que é a grande verdade. A política é feita para que tenhamos o olhar republicano, para que olhemos para o Brasil. Mas o PMDB muitas vezes está pensando mais no espaço que ocupa do que no projeto nacional do Brasil”, disparou. Diante de uma oposição mais acirrada e de uma base menos fiel, o governador cearense defende que é preciso fortalecer os partidos “que realmente estão em defesa do governo Dilma”, como PDT e o PROS.
Para Santana , a proposta de unir alguns partidos da base em frente ampla que está sendo discutida pelo ministro das Cidades e presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab, e pelo ministro da Educação, Cid Gomes (PROS), seria uma forma importante de fortalecer essa base. Ele, no entanto, se diz contra a criação de um novo partido, como o PL que Kassab tenta criar para fundir o PROS e o PSD. “Só conseguiremos superar o que vivemos hoje no Congresso, nas relações políticas, com a reforma política”, acrescentou.
PT
O chefe do Executivo cearense também fez algumas críticas ao PT. Santana avalia que é preciso repensar “muita coisa” da formação interna da sigla. “Nós burocratizamos muito o partido”, disse. Santana defende ainda que os quadros do partido que estiverem envolvidos em atos de corrupção devem ser punidos. Questionado se, no âmbito partidário, essa punição seria a expulsão da legenda, ele desconversou e limitou-se a dizer que é preciso seguir o estatuto e as regras da sigla.
“Ninguém pode pré julgar ninguém. Esse é o grande erro hoje: sai matéria no jornal já condenando. Todo mundo tem o direito de se defender. Vou dar um exemplo. O que o deputado José Genoíno vem sofrendo depois do processo do mensalão. Uma pessoa que lutou pela redemocratização e hoje passa por isso”, afirmou.
Santana avaliou ainda que o ex-presidente Lula é uma grande reserva política do PT para concorrer a sucessão de Dilma em 2018, mas garantiu que o petista ainda não deu nenhuma sinalização de que irá concorrer.
Baixas
Há pouco mais de dois meses no cargo, Camilo Santana já enfrentou duas baixas em seu secretariado: o secretário do Esporte, David Durand, e o secretário-executivo da Segurança, Odécio Carneiro. O governador cearense, no entanto, rebateu as críticas de que isso se configura como uma crise e minimizou as saídas. No primeiro caso, diz, foi uma decisão pessoal de Durand, único deputado estadual cearense do PRB eleito nas eleições do ano passado.
Nos bastidores, contudo, a informação é de que Durand pediu exoneração, porque não teria tido autonomia para escolher seus secretários adjuntos e assessores. “Não existe isso. (…) Nenhum secretário deixou de participar da escolha da sua equipe. Ninguém aqui nomeia ninguém sem ter o acordo com o secretário do governo”, rebateu Santana, ponderando que foi eleito governador com uma “aliança programática”. “Não me comprometi com nenhum partido, para nenhum cargo desse governo”, destacou.
No caso do secretário executivo da Segurança, Santana explicou que a saída se deu por uma decisão do secretário da Segurança, Delci Teixeira. “Tem algumas áreas do governo que para mim são estritamente técnicas e que eu não aceito nenhuma interferência partidária. Uma delas é a segurança. Dei total autonomia a ele (Teixeira) para montar a equipe”, disse. Para o governador cearense, a saída de Odécio Carneiro é “natural”. “Quanto mais cedo você corrige melhor”, disse.