A mais grave decisão sobre os filhos é tomada por seus pais longe deles, sem ouvi-los. A da presença no mundo. Do qual só saem por vontade própria, movidos por grandes impulsos destrutivos, de modo chocante e pungente. Através de bebida alcóolica – lentamente –, do uso excessivo de drogas, ou de armas.
Se não tiverem força para chegar a tais extremos, eles terão de aceitar a cota do tempo dado pela natureza aos seres humanos, resistindo ao sofrimento, e, ocasionalmente, sentindo-se felizes. Por isto tudo, os pais se sentem comprometidos com o bem-estar dos filhos, desde que eles nascem. Se não forem psicopatas. Como, infelizmente, parece ser o caso do sheik de Dubai, Mohamed Bin Rashid al Makt, pai de Latifa Mohamed al Maktum, de 32 anos.
Há dois meses, o sheik ordenou o sequestro dela, numa operação militar, quando, pela segunda vez, ela tentava da fugir do controle dele. O desaparecimento de Latifa vem sendo noticiado pelos principais jornais do planeta. El País, da Espanha, Diário de Notícias, de Portugal, O Globo, do Rio de Janeiro, entre outros. Junto com a divulgação de um vídeo de 40 minutos, gravado antes de elas entrar no iate que a levaria para longe do sheik. Nele, Latifa acusa o pai de ser “pura maldade”. Responsabiliza-o pela morte de muitas pessoas. E acrescenta: “A sua imagem de homem de família é um mero exercício de relações públicas".
Latifa revela que empreendeu sua primeira fuga, aos 16 anos. E que, depois de capturada, ficou presa, durante três anos, nos quais foi torturada e drogada. Ela alerta: “se vocês estão vendo este vídeo isto é sinal de que estou morta ou numa situação muito difícil”.
Há poucos dias, a diretora do Human Rights Watch na Inglaterra se manifestou sobre o sumiço de Latifa, desde que o iate dela foi invadido por homens armados a serviço do sheik. Sarah Leah Whitson declarou ao The Guardian: “As autoridades dos Emirados Árabes Unidos devem revelar imediatamente o paradeiro de Sheikha Latifa, confirmar o seu estado e permitir que ela contate com o mundo exterior".
Mohamed Bin Rashid al Makt, assim, pode ter lá os seus 4 bilhões de euros – patrimônio atribuído a ele pela revista Fobes, na sua lista de homens mais ricos do mundo. Pode ainda acumular muito poder como Emir de Dubai e Primeiro-ministro dos Emirados Árabes. Mas, diante de sua filha, não há dúvida, é um colossal desastre. Um espantoso fracassado.
Estes versos que Vinicius de Moraes escreveu há mais de 60 anos parecem, hoje, referir-se a ela, princesa do Dubai: “Pobre menina! Tão rica!/ Que triste você fica,/ se vê um passarinho em liberdade. /Indo e vindo à vontade. Na tarde!”.