Mundo das Palavras

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Coluna semanal do jornalista e doutor em Comunicação Oswaldo Coimbra

A miniaturização e a disseminação do uso de máquinas fotográficas trouxeram à tona aspectos antes inimagináveis no comportamento das pessoas comuns. Aquela categoria em que todos nós nos enquadramos. Já que não pertencemos ao brilhante universo das celebridades festejadas por revistas, filmes e canais de televisão.

Quem imaginaria antes a fúria com que tantos adolescentes, rapazes, moças, mulheres e homens adultos produzem agora incessantemente imagens de si mesmos, em todo tipo de ambiente público? O duvidoso milagre é obra das minúsculas máquinas fotográficas acopladas em telefones celulares.

Para a geração que se acostumou a reservar as operações deste tipo aos fotógrafos profissionais que trabalhavam em redações jornalísticas e em estúdios próprios, o uso destrambelhado do novo equipamento transportável em bolsos de calças e bermudas parece servir apenas para alimentar um narcisismo bizarro e patético. Afinal, há alguma outra explicação para esta obsessão pela própria imagem que faz as pessoas a captarem inúmeras vezes, apreciá-las no minúsculo monitor de um celular, e, em seguida, exibi-las nas redes sociais da internet? Leva a quê esse showzinho com cenas da vida particular de cada um, permitido pelo avanço da tecnologia? À sensação em quem o encena de ganhar fama e se tornar uma personalidade pública como um artista de telenovelas, um escritor de livros de autoajuda, uma bispa ou um bispa evangélico, daquele tipo que ocupa horas infindáveis nas programações dos canais de televisão? O anonimato agora se tornou um fardo maldito, embora ele preserve a identidade de cada um, respeitando seu sagrado direito à privacidade. Vivemos num momento em que ninguém mais quer ser desconhecido do grande público. Pobres dos nossos antepassados! A eles não coube o desfrute desta glória, a da fama instantânea.

Antigamente, as famílias brasileiras guardavam em álbuns as imagens de seus membros, fixadas nas diversas fases do passado delas. Eram imagens geralmente produzidas sem refinamento profissional, de modo tosco. Mas a passagem do tempo as tornava preciosas e comoventes.

Aqueles álbuns, às vezes, ficavam esquecidos nas gavetas das cômodas por longos meses. Por isto, quando reencontrados, produziam alegria e encanto num mergulho em um tempo já vivido e enriquecido pelo afeto familiar. Hoje há o Facebook. De familiar ele tem pouco ou nada, dada a abrangência planetária do espaço geográfico dentro da qual pode ser acessado. Nem por isto algumas pessoas deixam de expor nele tanto o pedaço de bolo que comem numa lanchonete como a própria aparência após o sexo com seu parceiro ou sua parceira.

Nossos antigos indígenas, quando se viam numa foto feita por um homem branco, temiam perder suas almas. Um pouco deste recato, acreditamos, poderia hoje reduzir a vulgaridade e o ridículo desta tendência à exposição pública insensata e narcisista.    

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