Em meio a tantos números negativos da economia no segundo trimestre e ao resultado negativo sem precedentes do PIB, o economista Armando Castelar, coordenador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), chama a atenção para o aumento da taxa de poupança. Com as pessoas confinadas em casa, a poupança subiu para 15,5% como proporção do PIB no segundo trimestre deste ano, superando os 13,7%, registrados no mesmo período de 2019.
Isso revela, segundo o economista, que o consumo não ocorreu pela falta de renda, mas porque os brasileiros não estão saindo de casa. Potencialmente, diz, é um indicativo de que a recuperação poderá ser acelerada, se houver uma melhora na saúde pública. A seguir, trechos da entrevista.
<b>Como o sr. avalia o resultado do PIB do segundo trimestre?</b>
O resultado foi terrível, totalmente sem precedentes em relação às séries estatísticas que temos. Veio pior do que se imaginava. Nós, do Ibre, trabalhávamos com uma queda de 8,8% e o mercado, com algo mais perto de 9%. Os 9,7% foram piores do que se esperava. Nesse sentido, foi o insulto em cima da injúria.
<b>Com esse resultado, qual é sua projeção para o ano?</b>
Eu estava mais otimista, trabalhando com uma queda de 4,5% no ano. Agora, projeto queda de 5%. A revisão do PIB do primeiro trimestre, de -1,5% para -2,5%, foi uma notícia adicional ruim. Essa crise é diferente de outras, com o desemprego muito alto, o consumo das famílias muito reprimido. Particularmente, com as pessoas dentro de casa, sem sair para ir a restaurantes, shows. Um dado que me chamou bastante a atenção foi a alta da poupança. A poupança subiu porque o consumo caiu mais do que a renda. Isso se observa muito claramente na Europa e nos Estados Unidos. Com as transferências de rendas e tudo mais, as pessoas não consumiram. O que mostra que o consumo não ocorreu porque faltou renda.
<b>O fato de a taxa de poupança ter aumentado é um sinal positivo?</b>
Potencialmente, sim, porque significa que as pessoas têm recursos para consumir no futuro. Isso poderá acelerar a recuperação. As pessoas estão começando a comprar imóveis, por exemplo. Se houver uma melhora na saúde pública, as pessoas têm recursos para sair consumindo.
<b>Na sua avaliação, está ocorrendo, de fato, uma recuperação nos últimos meses?</b>
Sim, melhorou a expectativa do mercado porque o auxílio emergencial, que inicialmente ia até junho, teve mais duas parcelas. Agora foi estendido até o fim do ano, com R$ 300.
<b>O sr. acredita que o PIB do terceiro trimestre virá forte em relação ao segundo?</b>
Sim. Gostaria de enfatizar que tudo isso está condicionado à pandemia. Se houver uma segunda onda, pode piorar. Mas, se houver uma vacina, vai ter um boom. Acredito que no terceiro trimestre a economia deve crescer na faixa de 6% em comparação com o segundo.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>