Eleito governador de Santa Catarina em 2018 com 71% dos votos válidos, o bombeiro Carlos Moisés da Silva, o Comandante Moisés, surfou na onda de Jair Bolsonaro, mas se afastou do presidente e foi o único dos três governadores do PSL que não embarcou no projeto de criação do partido Aliança pelo Brasil.
Enquanto seus antigos aliados mantêm um discurso ideológico radical e antiesquerda, Moisés dialoga com agricultores do Movimento dos Sem Terra (MST), tem o PDT em sua base e aprovou projeto para registrar a carteira de identidade de transexuais com nome social. Para ele, o gestor público não deve ficar preso a ideologias.
<b>Por que o sr. decidiu ficar no PSL em vez de entrar no projeto do Aliança pelo Brasil?</b>
Quando houve esse movimento, eu tive a convicção de que deveria permanecer, porque nós temos uma linha de conversar com todos os setores, ter flexibilidade e não assumir pautas radicais. Nos primeiros meses do meu governo havia alguns políticos do PSL de Santa Catarina que tinham essa visão mais radical e extremista. Como eles saíram, eu decidi ficar. Fui criticado por eles por ter recebido movimentos indígenas, agricultores ligados ao MST e as Mães pela Diversidade. Percebi que eu não queria ficar nesse espaço beligerante. Fui construir um partido mais equilibrado, do meu jeito. A gente respeita as diferenças e os diferentes.
<b>O discurso dos bolsonaristas é muito beligerante?</b>
Não se pode generalizar. Em Santa Catarina alguns são equilibrados, mas outros têm atitudes que chamam a atenção. Alguns se afastaram do governo. Enquanto a gente defendia algumas bandeiras de entrega de obras, alguns diziam que elas não podiam ser entregues porque começaram no governo anterior. Esse radicalismo não cabe no governo.
<b>Como vê a campanha que prega abstinência sexual?</b>
Até a igreja reavalia hoje a questão do celibato. Cada um vive do jeito que quiser.
<b>Como avalia a gestão do ministro Abraham Weintraub no MEC?</b>
Prefiro não avaliar.
<b>A questão ideológica pode atrapalhar o governo?</b>
A gestão deve retirar os extremos. As ideologias atrapalham bastante. Nem a extrema direita nem a extrema esquerda trouxeram bons resultados em lugar nenhum, e não farão isso no Brasil. Temos que nos despir das ideologias.
<b>O sr. se define como de direita?</b>
Não gosto desse tipo de definição, esquerda ou direita. Prefiro o equilíbrio. Estou no centro ou centro-direita, mas não gosto de me autodefinir.
<b>O sr. é liberal nos costumes ou conservador?</b>
Se você considerar que não perseguir LGBT é ser liberal nos costumes, então sou. Jamais permitiria que no meu governo se perseguisse qualquer opção. A maioria das pessoas apoiou essa ação do governo. O Instituto Geral de Perícias, que emite as identidades, juntou o nome social, tipo sanguíneo e todos os documentos em um só. O nome social é questão de dignidade humana. Se a pessoa se chama João, mas prefere ser chamada de Maria, o Estado não tem que dizer que é João.
<b>O sr. acha importante dialogar com a esquerda?</b>
Tenho certeza de que a esquerda votou em mim. Basta fazer as contas. Pregamos a união. O País está polarizado, mas essa disputa não leva a lugar nenhum. Na Assembleia temos, na base, partidos de esquerda, como PDT. São quatro deputados do PT e alguns deles votam conosco em algumas matérias.
<b>O sr. ainda se considera um bolsonarista?
</b>
Eu trabalhei na campanha do presidente, mas nunca idolatrei nenhum ser humano. Sempre fico com pé atrás quando alguém se diz chavista, bolsonarista ou qualquer "ista" da vida. O presidente tem nosso apoio aqui, mas não levanto essa bandeira ou expressão bolsonarista.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>