Estadão

Polarização política marca destituição de Josué Gomes da presidência da Fiesp

Em outubro do ano passado, a obra do paisagista Burle Marx foi o centro de uma crise política dentro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Uma projeção colorida do terraço do antigo Ministério da Saúde e Educação, no Rio de Janeiro, idealizado pelo artista, exibida no prédio da Avenida Paulista foi confundida por integrantes da entidade com a bandeira do Brasil sendo coberta de vermelho. Na visão deles, era um sinal de que umas das principais organizações empresariais do Brasil poderia estar sob a influência do socialismo.

Também houve até quem confundisse o nome do artista com o de Karl Marx, um dos autores do Manifesto Comunista. A obra de Burle Marx só foi projetada no prédio da Fiesp por causa de uma exposição do artista na entidade.

O grau de tensão política envolvendo a obra de Burle Marx foi um dos capítulos da disputa na Fiesp entre empresários ligados a Jair Bolsonaro (PL) e os que são considerados mais próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A batalha mais recente dessa guerra interna ocorreu na segunda-feira, 16, com a assembleia que votou pela destituição do empresário Josué Gomes do comando da Fiesp. O executivo sempre foi visto como um nome bastante próximo ao de Lula. Ele é filho de José Alencar, morto em 2011, vice do petista nos seus dois primeiros mandatos. Ele foi convidado para ocupar o posto de ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mas recusou a proposta.

A Fiesp é a entidade patronal mais importante do País, e seus posicionamentos têm repercussão nacional e influência em pautas no Congresso. Em 2015, por exemplo, ainda presidida por Paulo Skaf, a entidade foi uma das principais vozes a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Não por acaso, no dia da assembleia, Josué chamou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para almoçar e dar uma demonstração de força.

A disputa política dentro da instituição começou a ficar evidente com o manifesto em favor da democracia, divulgado em julho do ano passado. Uma parte da entidade avaliou que a carta tinha como objetivo atingir Bolsonaro.

O apoio ao documento também marcou o rompimento definitivo entre Josué e Skaf – que ficou 18 anos no comando da entidade e que passou a estimular um movimento contra o seu sucessor. O ex-presidente da entidade declarou voto em Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2022.

Na sua gestão, Skaf fortaleceu os sindicatos de menor porte. Esses grupos passaram a defender o afastamento de Josué alegando que ele se dedicava mais ao seu negócio e era pouco comprometido com os interesses setoriais. Foram realizadas três reuniões na casa de Skaf para construir a estratégia de tirar Josué do comando.

Procurados, Skaf e a Fiesp não se manifestaram.

<b>Defesa</b>

O jurista Miguel Reale Júnior – um dos advogados de Josué – afirmou que "não faltam" argumentos para que o executivo questione na Justiça a assembleia que votou por definir o seu futuro na entidade. "Argumentos não faltam. Pode-se requerer o reconhecimento da nulidade da assembleia por violação das normas dos estatutos, por ausência de acusação", disse.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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