O presidente francês, Emmanuel Macron, novamente enfrentou nesta quinta, 20, centenas de manifestantes durante uma visita a um centro educativo no sul da França, onde as forças de segurança confiscaram panelas para evitar protestos mais barulhentos.
A visita ao colégio de ensino médio Michel de Ganges, ao norte de Montpellier, é o segundo deslocamento público de Macron desde a promulgação, na madrugada de sábado, de sua impopular e contestada reforma da previdência.
O presidente já tinha sido recebido com vaias e panelaços em Sélestat, no nordeste do país, onde havia retomado suas visitas pela França para defender seu plano de 100 dias para superar a crise social que a reforma provocou.
"Os ovos e as panelas servem apenas para cozinhar na minha casa", disse Macron em sua chegada a Ganges, durante conversa com o deputado esquerdista Sébastien Rome.
Pela manhã, o prefeito da região proibiu "dispositivos sonoros portáteis". Por isso, os policiais confiscaram as panelas dos manifestantes e os mantiveram longe da delegação do presidente.
Dezenas de policiais foram mobilizados na pequena cidade para impedir que os manifestantes se aproximassem da escola. Eles usaram gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas que tentavam ultrapassar as barreiras. "Pode-se sair de uma crise democrática proibindo panelas?", perguntou a deputada Sandrine Rousseau.
Apesar da rejeição dos sindicatos e da grande maioria dos franceses, segundo as pesquisas, Macron apresentou uma lei para adiar a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos e antecipar para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos, e não 42, para receber a aposentadoria integral.
<b>Promessas</b>
Com medo de perder a votação no Parlamento, ele aprovou a reforma por decreto em março. Na segunda-feira, Macron definiu um prazo de 100 dias para tentar virar a página do conflito social e iniciou um giro pela França para defender os temas com os quais quer recuperar sua imagem, como reindustrialização e educação.
Em Ganges, ele prometeu aumentar o salário dos professores "entre 100 e 230 euros líquidos por mês" (R$ 554 e R$ 1.274). "Temos de reconhecer e pagar melhor os professores", disse o presidente.
No fim da tarde de ontem, Macron fez uma parada-surpresa em outra pequena cidade do sul da França, Perols, onde caminhou pelas ruas para se encontrar com alguns moradores em um ambiente descontraído, apertando mãos e fazendo selfies.
Uma mulher discordou de como Macron forçou as mudanças no Parlamento, chamando-o de antidemocrático. O presidente respondeu, sorrindo, que não renunciará. E ouviu uma tréplica: "Você não se importa mesmo com o que as pessoas querem".
Macron assegurou que a forma como a reforma previdenciária foi aprovada (sem votação direta da Assembleia Nacional) foi "legítima" e não prejudica a democracia. Ele afirmou novamente que considera os protestos como fúteis. "Não serão as panelas e as frigideiras que nos impedirão de avançar", declarou.
<b>Protesto</b>
Em Paris, centenas de pessoas realizaram uma manifestação pacífica na estação Gare de Lyon. Mais tarde, elas se dirigiram ao distrito comercial de La Defense, onde invadiram brevemente o prédio da bolsa de valores europeia, a Euronext.
"Queremos mostrar que a mobilização continua", disse Fabien Villedieu, presidente do sindicato Sud Rail. "De jeito nenhum vamos deixar essa reforma passar. A ação na Euronext pretendia mostrar onde está o dinheiro. A França nunca foi tão rica, nunca as multinacionais foram tão ricas. O problema é a distribuição da riqueza."
A oposição também está determinada a não deixar a reforma passar. Partidos de esquerda apresentaram ontem uma segunda petição para convocar um referendo com o objetivo de limitar a idade de aposentadoria a 62 anos, sobre o qual o Conselho Constitucional deve se pronunciar no dia 3, após rejeitar a primeira solicitação. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>