A Polícia Civil de Goiás apreendeu a agenda de Antônio Carlos da Silva Francisco, suspeito de vender vagas em concursos e preso na terceira fase da Operação Porta Fechada, com uma relação de 18 candidatos que tentaram fraudar o Enem 2016. A ação deflagrada na segunda-feira, 30, capturou outros sete aliciadores de candidatos dispostos a comprar provas.
As anotações manuscritas preenchem 10 páginas da agenda e têm o título “Relação candidatos”. Os candidatos receberam números de 1 a 18. Da relação, cinco conseguiram a aprovação com a fraude.
Sob cada nome, a agenda contém anotações com o número do CPF, a pontuação ligada ao Enem, um número de inscrição e uma senha. A senha de um aluno era “halls preto”.
Segundo os investigadores, o documento revela a ousadia do grupo – ao lado do nome de alguns candidatos, a agenda traz cálculos sobre a quantidade de pontos necessários para aprovação.
A anotação referente ao estudante identificado pelo número 17 indica “Pontos 802,54”. “813,2 + 746,4 + 757,8 + 975,3 – Redação 720”.
A agenda indica ainda cidades de outros Estados. Associado à aluna número 1 está o município de São José do Rio Preto e à aluna número 2, Agudos, ambos os municípios situados no interior de São Paulo.
A venda de vagas do Enem foi descoberta pela Operação Porta Fechada em meio à investigação sobre fraudes no concurso para delegados.
A nova fase da operação identificou que os 13 primeiros colocados na prova objetiva para delegados foram aprovados mediante a compra de suas vagas.
Os valores pagos pelos candidatos iam de R$ 150 mil a R$ 450 mil. A quantia dependia “do bolso da pessoa”, diz a Polícia.
Parte dos alvos da Porta Fechada, segundo a Polícia, era formada por aliciadores que “identificavam possíveis compradores de vagas”.
A Polícia afirma que os aliciadores usaram o ex-funcionário do Cebraspe (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos – órgão vinculado à UnB) Ricardo Nascimento da Silva para fraudar concursos – ele foi preso.
O compradores de vaga entregavam as folhas respostas em branco ou com apenas poucas questões preenchidas. No dia seguinte à aplicação da prova o funcionário do Cebraspe pegava os cartões respostas, preenchia o documento durante a noite, quando já era possível acessar os gabaritos na área do candidato, e os devolvia para digitalização e conferência de erros e acertos.
De acordo com a Polícia, em 6 de fevereiro, Ricardo Nascimento da Silva pegou os cartões respostas, ao menos, de 16 candidatos que haviam entregue os papeis praticamente em branco por orientação do esquema. Após o preenchimento de 13 desses cartões respostas, Ricardo os devolveu ao Cebraspe no dia seguinte, para digitalização e conferência de erros e acertos.
Os outros três cartões respostas, segundo a Polícia, não foram preenchidos por desacordo quanto ao pagamento entre aliciadores e candidatos, motivo pelo qual estes não foram aprovados.
A reportagem não conseguiu contato com Antonio Carlos Francisco. O espaço está aberto para manifestação.
Outro lado
O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, que defende o Cebraspe, informou que o órgão tem atuado junto a Polícia Civil desde o início das investigações. Segundo o defensor, o Centro entregou documentação e filmagens à Polícia.
Figueiredo declarou que o Ricardo Nascimento Silva não é funcionário do Cebraspe desde março. O advogado afirmou que o ex-funcionário foi desligado por quebra de padrão de comportamento.