Se há um nome, há uma coisa. Ainda que esta coisa seja – não um objeto, mas apenas – um pensamento. Ou um comportamento. Há poucos dias, Hélio Schwartsman presenteou os leitores de seus comentários políticos, publicados na Folha de S. Paulo, com uma surpreendente pesquisa de nomes. Com ela, Hélio quis mostrar a universalidade do comportamento de muitos deputados estaduais paulistas, agora, sob investigação da imprensa e da Justiça. Aquele comportamento que o comentarista classifica como um mau hábito político. O de conseguir aprovação de emendas à regulamentação dos gastos de dinheiro público, através das quais os deputados beneficiam, sobretudo, a eles mesmos.
“Não é novo, nem uma exclusividade paulista ou brasileira”, disse o articulista, sobre o mau comportamento, antes de mostrar sua pesquisa. Nela, ele revelou as expressões e seus respectivos significados com as quais o mau hábito é designado em diversos países e em diversas línguas.
“Pork barrel”, nos Estados Unidos (barril com carne de porco dado a escravos por que proprietários rurais). “Valfläsk”, na Suécia (promessas eleitorais). “Siltarumpupolitiikka”, na Finlândia (política de esgoto). “Pomeni electorale”, na Romênia (esmolas eleitorais).”Kielbasa wyborcza”, na Polônia (salsicha eleitoral). E, “predvolebni gulash”, na Tchecoslováquia (guisado pré-eleitoral).
Em todas as expressões, sobressai a mesma visão depreciativa dos políticos. Visão manifestada, agora também em outros países do mundo através da descrença na possibilidade de os políticos e seus partidos serem capazes de atender às necessidades dos cidadãos. A “Primavera Árabe” já se tornou um exemplo clássico da descrença no valor da representatividade deles. Com este movimento, milhões de pessoas buscam a democracia, nas ruas, na Tunísia, no Egito, na Líbia, na Argélia, no Bahrein, em Djibuti, no Iraque, na Jordânia, na Síria, em Omã, no Iémen, no Kuwait, no Líbano, na Mauritânia, em Marrocos, na Arábia Saudita, no Sudão e no Saara Ocidental.
Nele, os políticos foram deixados de lado, quando os cidadãos se juntaram para lutar por seus direitos. O mais impressionante é que, simultaneamente, esta tendência retornou à, ainda, maior potência mundial, os Estados Unidos, assim como à Europa, onde os jovens, os negros e as mulheres impuseram nas ruas sua revolução sócio-comportamental, na mitológica década de 1960. Cidadãos de dezenas de cidades dos Estados Unidos se reúnem em manifestações públicas contra o desemprego, contra as ambições desmedidas e criminosas do sistema financeiro. Enquanto, na Grécia, na Espanha, na França, e, na Inglaterra, igualmente, milhares de pessoas expressam fora dos parlamentos o descontentamento com os rumos da política econômica adotados por seus países.
No Brasil, esta tendência, apenas, começa a ganhar a força que já teve quando os “Caras Pintadas” contribuíram para a renúncia do presidente Fernando Collor. Naquele momento, gerou grandes esperanças de melhora nas formas de representação popular. Depois, infelizmente, frustradas. Uma situação perigosa porque estimula os “salvadores da pátria” a sonharem com uma nova intervenção na vida política nacional. Como aconteceu, em 1964, quando os militares cassaram os mandatos dos políticos profissionais e impuseram uma ditadura ao país.
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP