Polêmica entre economistas e o sistema financeiro europeu, a iniciativa de bancos centrais em adotar uma política monetária com taxas negativas ocorreu diante das incertezas em relação ao euro e à persistente deflação.
Desde o colapso da Grécia e os riscos para o mercado único europeu, países que ainda mantêm moedas soberanas se viram invadidos por um fluxo recorde, e inédito, de recursos em busca de segurança. Investidores apostaram no franco suíço e nos países escandinavos. O resultado foi uma valorização excessiva dessas moedas, afetando a competitividade de suas exportações e até afastando turistas das estações de esqui em busca de montanhas mais baratas do lado francês ou italiano.
Com uma economia frágil, esses países começaram a dar sinais de que corriam o risco de a economia entrar em processo de deflação, o que levou os bancos centrais a optar pela taxa de juros negativa.
Quem primeiro lançou a ideia foram os dinamarqueses, com uma taxa negativa de 0,65%. No fim de 2014, os suíços aplicaram taxa negativa de 0,75% e a Suécia, de 0,5%. O Banco Central Europeu (BCE) e mesmo o Banco do Japão (BoJ) seguiram o mesmo caminho.
Um dos primeiros impactos foi no financiamento da dívida soberana desses países. Comprar um título do Tesouro dessas economias passou a significar que o investidor, ao final da maturidade do papel, receberia menos do que investiu. Em troca, teria a garantia de que essas economias não sucumbiriam nem que a moeda desapareceria. Na prática, o investidor paga aos governos para colocar seus ativos num país seguro e autoridades se financiam gratuitamente.
Estudo do JP Morgan aponta que um quarto das dívidas soberanas pelo mundo já estão praticando taxas negativas.
Quem ainda comemora são os governos municipais e regionais, que passaram a ter condições ideais para pedir dinheiro emprestado aos bancos e fazer obras ou mesmo financiar o funcionalismo público. Segundo o Credit Suisse, um ano depois da introdução das taxas negativas, os governos economizaram 1 bilhão de francos em juros.
Limitado
Em uma verdadeira cruzada contra essa realidade, os bancos têm proliferado alertas de que a estratégia pode punir a economia suíça no médio prazo. Num levantamento publicado pelo Credit Suisse, os resultados teriam mostrado que apenas um terço de pequenas e médias empresas consultadas indicaram que a taxa negativa teria ajudado.
O UBS chega a alertar que a manutenção dessa política de taxas de juros negativas pode aumentar o desemprego, enquanto bancos regionais já advertem terem começado a registrar resultados negativos e culpam a política monetária do banco central do país.
Mas o Banco Nacional suíço já deixou claro que não pretende rever essa política por enquanto, principalmente depois do referendo, em junho, quando a população do Reino Unido votou pela saída do país da União Europeia e que, uma vez mais, levou investidores a migrar para o franco. “Nas condições atuais, um aumento das taxas significaria uma deterioração das condições monetárias da Suíça”, disse Thomas Jordan, presidente do BC suíço.
Mas, no país que ostenta de forma orgulhosa o título de campeão mundial da poupança, a lógica de recompensar endividados e punir quem poupa começa a incomodar a população. “Punir quem guarda dinheiro e recompensar o consumo contradiz os princípios da economia de mercado”, alertou Alois Bischofberger, em um estudo do instituto Avenir Suisse. Para o economista, o que existe hoje entre os bancos suíços é uma “repressão financeira”. “Além disso, o dinheiro barato não gerou uma alta no consumo”, completou.