Opinião

Políticos que vivem nos ares

O último ministro de Dilma Roussef a cair antes do titular do Turismo, Pedro Novais, que até a redação deste editorial estava na corda bamba, foi Wagner Rossi da Agricultura. Ele se safou de uma série de denúncias de tráfico de influências e de corrupção em sua pasta, porém caiu logo depois de admitir que havia viajado em um jato executivo que pertencia a uma empresa que mantinha negócios com o Governo.


Pegando esse gancho, a Época – que foi às bancas no último sábado – fez um levantamento junto aos atuais ministros e chegou à conclusão que a maioria já cometeu o mesmo pecado de Rossi. Porém, o casal ministerial formado por Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffman (Casa Civil) se recusou – diferente dos demais colegas – a prestar esclarecimentos à publicação. Segundo a revista, os dois utilizaram aviões de uma construtora, que “coincidentemente” ganhou alguns privilégios em uma grande obra do PAC no Paraná, estado de origem da dupla.


 No início desta semana, veio à tona a história sobre o todo-poderoso José Sarney, considerado o “dono” do Maranhão, que utilizou um helicóptero a serviço da Polícia Militar de seu estado para ir até uma ilha particular. Questionado, argumentou que ninguém teria sido prejudicado com essa benevolência do governo local, que lhe dispensou o tramento digno de uma autoridade de seu quilate. Enganou-se. No momento em que estava a seu serviço, um pedreiro em estado grave deixou de ser atendido por aquela aeronave.


Fora esse detalhe, a questão é muito mais controversa do que esses favores isolados ou não. O problema maior é o uso político que se faz dos mandatos. Difícil acreditar que uma empresa privada, que mantém negócios com o poder público, empresta suas aeronaves (ou qualquer outro tipo de veículo) para políticos influentes a troco de nada.


Aliás, isso ocorre nas mais diferentes esferas e com uma frequência maior que se possa imaginar. Um vereador fica sob suspeita toda vez que obtém benefícios pessoais de grupos privados, que precisam de seu voto para obter uma vantagem. Assim como um secretário ou ministro que leva algum por fora ou recebe benefícios extras de prestadores de serviços, que são exatamente pagamentos velados. No fundo, quem fica com a conta é a população, responsável por arcar com uma insana  carga tributária necessária para mover a máquina pública.

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