Terminado o jogo contra o Internacional, Vanderlan desceu ao vestiário do Allianz Parque e foi recebido pelos colegas com aplausos. É fácil de explicar a cena. Em sua segunda partida como titular em 2022, o jovem de 19 anos havia sido eleito o melhor em campo pois fora fundamental para o triunfo que manteve o Palmeiras com uma vantagem razoável na liderança do Brasileirão.
O canhoto polivalente, capaz de atuar na lateral, na zaga e até como ala, é mais um talentoso atleta oriundo da Bahia disposto a fazer sucesso no clube paulista, que já teve Júnior Baiano, Oséas e tem Danilo.
Vanderlan Barbosa da Silva nasceu e cresceu em Brumado, cidade do interior da Bahia, situada a 500 quilômetros da capital Salvador. Deu seus primeiros chutes em uma bola cedo. Aos quatro anos já jogava em uma escolinha da cidade, a Lusac, fundada por Paulo Henrique Pires, o primeiro treinador do menino, responsável por desenvolver o talento de um "garoto um pouco tímido, fechado". "Mas ele sempre foi muito focado e obediente", afirma Paulo Henrique ao <b>Estadão</b>.
O treinador da escolinha tinha em suas mãos um lateral "bom de marcação, habilidoso com a perna esquerda e dono de um chute potente". "Destacava-se também pela concentração", recorda-se. Vanderlan começou como lateral mesmo. Era nesse setor que se sobressaía em relação a outros jovens. Às vezes, atuava como ala.
No entanto, um dia, enciumado pelo brilho de um colega atacante, quis jogar mudar de posição e jogar no ataque. "Ele pediu para o pai falar comigo que queria jogar de atacante. Eu falei: você não leva jeito pra atacante. Mas vamos lá . Coloquei e felizmente não foi bem. Disse pra mim: quero voltar pra lateral, professor", conta o ex-professor, aos risos.
O futebol está na veia de Vanderlan. Ele começou cedo incentivado pelos pai, Vanderlei Barbosa da Silva, que jogava no time de Brumado e queria ver o filho progredir no esporte. "Ele sempre falava que o sonho dele era ser profissional", conta o pai. Era ele e a mulher, Valquíria, que pagavam a passagem do filho quando ia jogar em Salvador. Às vezes, era difícil custear as viagens, mas o casal dava um jeito. "Sempre priorizamos os sonhos dele". A mãe também levava o menino nos treinos e nas peneiras.
NO PALMEIRAS
Vanderlan saiu de casa aos 13 anos para jogar no Jacuipense, no qual ficou por nove meses. Chamou, em pouco tempo, a atenção de um captador do Palmeiras, que o trouxe em 2017, quando o garoto tinha 15 anos.
Vanderlan é descrito pelo técnico do sub-20 do Palmeiras, Paulo Victor Gomes, como um menino "educado", de "grande caráter" e "muito trabalhador". O treinador trabalhou com o jovem no sub-15 e no sub-20. Nessa última categoria, entre 2021 e 2022, o jogador foi o que mais atuou entre todos. Foram 45 partidas e participações nas campanhas vitoriosas no Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e tri Campeonato Paulista, além da inédita Copinha.
"Desde minha primeira passagem aqui, de 2015 a 2017, já se demonstrava um menino com todos os atributos necessários para vencer na posição, pela taxa de trabalho e, principalmente, pela forma profissional como encara todas as situações", diz o técnico ao <b>Estadão</b>.
Quem acompanha o garoto projetava que ele precisaria de pouco tempo para deixar Abel Ferreira satisfeito porque tem predicados associados ao talento com a bolas nos pés e ao aspecto mental. É forte, ágil, capaz de jogar como zagueiro, lateral e ponta pela esquerda e, nas palavras do treinador do sub-20, "preparado para todas as situações que for exigido".
"Fisicamente, ele é um atleta muito privilegiado. Ele é um jogador que pode realizar todas as funções que um lateral pode fazer. Ele cumpre todos os requisitos de um lateral de altíssimo nível, tem um refinamento muito grande no último terço para cruzar e defensivamente consegue ser muito consistente pelas valências físicas e técnicas", detalha Paulo Victor.
NOVO RESERVA DE PIQUEREZ
O atleta já havia mostrado serviço em sete jogos em 2021 pelo profissional, mas foi nesta temporada, há poucos dias, que deixou Abel encantado. A oportunidade de ser titular pela primeira vez em 2022 surgiu contra o América-MG. Piquerez e Jorge, na ocasião, estavam lesionados.
O menino fez um jogo seguro em Belo Horizonte, suficiente para continuar entre os titulares diante do Inter mesmo com o retorno de Jorge. Diante dos gaúchos, veio, então, a melhor exibição do jovem palmeirense em sua curta trajetória no profissional. Errou apenas um dos 37 passes que deu e foi o segundo jogador que mais desarmou, segundo dados da plataforma Footstats. O mais importante, para ele, é que saiu de seus pés a assistência para Gabriel Menino marcar o gol da vitória no fim do jogo.
Depois da partida, o acanhado jogador falou poucas palavras. Disse que está colhendo os frutos do que fizera na base e que quer "curtir o momento". Soube, então, que se tornou a segunda opção para a lateral esquerda, deixando Jorge para trás.
Abel Ferreira, adepto do pensamento meritocrático, avisou que o garoto, neste momento, se tornou o reserva imediato de Piquerez. "Por mérito próprio, hoje é o número dois", explicou o português. "É um moleque que já está aqui há muito tempo, tem cabeça, é predestinado, joga muito bem em qualquer competição, faz zagueiro e lateral".
Weverton foi outro a deixar elogios à cria palmeirense. "É um garoto muito trabalhador, que buscou o espaço dele com paciência e tranquilidade. Está aqui mais um grande jogador surgindo". Mas onde pode chegar o garoto, elogiado por atletas já consagrados no Palmeiras e capaz de agradar o exigente Abel Ferreira? Longe, projeta o esperançoso Paulo Henrique, primeiro técnico do lateral. "Já falei varias vezes que ainda vão ouvir ele falando na TV e também vestindo a camisa da seleção brasileira".