A ex-ministra do Meio Ambiente e integrante do grupo de trabalho responsável pelo tema do governo de transição, Marina Silva (Rede), traçou um cenário pessimista para a sustentabilidade do País, dizendo que é muito difícil reverter a piora do quadro verde se não houver um foco muito claro para a tarefa. Segundo ela, as instituições foram desmontadas ou enfraquecidas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) – Marina citou INPE e ICMBios, entre outras.
A ex-ministra disse que, apesar de já ter se desentendido com o PT e com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no passado por causa de visões diferentes sobre política ambiental, tem certeza de que a história agora será diferente. Segundo ela, "só que tem visão negacionista" do mundo não é capaz de acompanhar as mudanças que ocorreram nos últimos anos. "Ter política transversal faz toda a diferença. Lula disse que será (política) de todo o governo. Isso significa que a política ambiental não é setorial", afirmou, em evento promovido pelo <i>Valor Econômico</i> e <i>O Globo</i> na manhã desta terça-feira (6).
Para a ex-ministra, que deve atuar nessa área no novo governo, foi constituída nos últimos quatro anos uma política de "terra arrasada" que gera o descontrole do desmatamento. Marina defendeu que é preciso realizar investimentos ambientais e que esses recursos são investimentos para a economia.
Marina sustentou que é possível o Brasil continuar a ser uma potência agrícola e energética sem precisar destruir a galinha dos ovos de ouro. Ela citou conversas preliminares com a Alemanha, por exemplo, que tem interesse no hidrogênio verde do Brasil para suprir a necessidade energética que hoje é ofertada pela Rússia.
Há a expectativa de que Marina comande uma autoridade sobre o tema que será criada no novo governo. "Lula tem a questão social, que é da vida dele, e a questão ambiental, que passou a ser igual à social. Claro que não é mágica. Ninguém se torna sustentável da noite para o dia, mas a dinâmica do governo pode ajudar nisso."