A resistência à adoção de medidas mais duras para obrigar céticos com a vacinação contra a covid-19 a se imunizar tem atraído o apoio de populistas de direita em países europeus. A pressão é mais evidente na Itália e na França, onde o chamado passaporte da vacina está em adoção e partidos de extrema direita defenderam protestos contra a adoção do passe.
Na Itália, o líder populista Matteo Salvini, da Liga, defendeu os protestos e mantém uma posição crítica ao passaporte, apesar de apoiar o governo do premiê Mario Draghi. Num ato contra o passe, ele acusou Draghi de excluir 30 milhões de italianos da vida social. Giorgia Meloni, do partido extremista Irmãos da Itália, afirmou que o projeto matará o turismo.
Na França, há três fins de semana, o país vem enfrentando protestos convocados por grupos contrário as vacinas. No último sábado, cerca de 205 mil pessoas participaram de manifestações em Paris e outras cidades francesas. Na capital, uma das marchas foi liderada por Florian Philippot, ex-aliado da líder de extrema direita Marine Le Pen, hoje líder de seu próprio partido anti-UE. Houve confrontos entre policiais e manifestantes.
Especialistas que observam o fenômeno do populismo na Europa avaliam que esses partidos usam a pandemia de covid-19 para valorizar sua ideologia e dar coesão à sua base eleitoral, com o auxílio de temas obscuros, como o ceticismo em relação às vacinas, a adoção de remédios ineficazes e, agora, a resistência ao monitoramento do status vacinal da população por meio dos passaportes.
"Esses partidos conseguem dar coesão e sentido pras franjas da sociedade ao se unirem em torno de um tema, obviamente polêmico e obscuro", explica Ana Simão, Coordenadora do curso de Relações Internacionais da ESPM Porto Alegre. "O movimento antivacina é, para além da questão da vacina, um movimento contra o status quo e o mainstream."
<b>Ceticismo</b>
Apesar do avanço da vacinação na Europa e na América do Norte, a maioria dos países ricos enfrenta dificuldades em superar os 75% da população imunizada com duas doses – número projetado por especialistas como o ideal para controlar a pandemia.
A Itália tem 52% da população com o esquema vacinal completo e 64% com apenas uma dose. Na França, 47% das pessoas tomaram as duas doses e 62%,apenas uma.
Com o aumento das infecções e hospitalizações por covid-19, principalmente entre quem ainda não está imunizado, ambos os países optaram pelo passaporte para restringir a circulação de quem ainda está suscetível ao vírus, principalmente em lugares fechados, onde o risco de contágio é maior.
Na França, desde 21 de julho, só entra em espaços culturais e de lazer quem estiver vacinado. Na semana que vem, a medida valerá também para bares, restaurantes, aviões e trens.
O passaporte na Itália tem medidas um pouco mais brandas. Ali, é necessário comprovar apenas uma dose da vacina ou um teste negativo de covid-19 nas últimas 48 horas para entrar em cinemas, museus, academias, restaurantes sem mesas ao ar livre ou eventos com aglomeração.
A regra enfureceu os céticos com a vacinação, que julgam o projeto dos passaportes uma afronta a seu direito de ir e vir. Alguns dos manifestantes na Itália e na França chegaram a protestar com estrelas de Davi, em uma referência ao tratamento dado pelos nazistas aos judeus em guetos durante a 2ª Guerra, o que provocou protestos da comunidade judaica.
"Vivemos num tempo de tanta ignorância e violência que distorções dessa magnitude nem são reprimidas mais", lamentou a senadora italiana Liliana Sagre, uma sobrevivente do Holocausto. "Esses gestos de maus gosto são uma loucura combinada com ignorância."
Apesar dos protestos, no entanto, o interesse pela vacinação tem crescido na Itália e na França.
Na Dinamarca, país pioneiro na adoção de medidas desse tipo, comerciantes dizem que a resistência dura apenas até o momento em que a grande maioria da população está apta a retomar a vida normal. Atualmente, 80% dos dinamarqueses estão vacinados. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>