Em um retorno ao espírito que prevaleceu durante a Guerra Fria, o governo da Ucrânia apela à comunidade internacional e, principalmente, a seus aliados, que boicotem a Copa do Mundo na Rússia, em 2018. Nesta terça-feira, o presidente ucraniano, Petro Poroschenko, pediu que os demais países se recusem a jogar o torneio se Moscou não retirar suas tropas de zonas ocupadas. A Fifa se recusa a falar do assunto e alerta que algumas das maiores multinacionais ocidentais – patrocinadoras da Copa – seriam as primeiras afetadas.
“Precisamos ter uma discussão sobre o boicote da Copa do Mundo”, declarou Poroshenko ao jornal alemão Bild. “Enquanto tivermos tropas russas na Ucrânia, acho que a Copa é impensável naquele país”, disse. O ucraniano insiste que não gostaria de misturar futebol e política. Mas alertou que a “invasão” obrigou times como o Shakhtar a abandonar sua cidade, Donetsk, e buscar uma nova sede.
Há um ano, tropas russas ajudaram rebeldes separatistas no leste da Ucrânia a desestabilizar a região, obrigando mais de 1 milhão de pessoas a deixarem suas casas, em um confronto que causou mais de 6 mil mortes. Americanos e europeus impuseram sobre os russos as maiores sanções desde a Guerra Fria. Mas nem assim uma solução foi encontrada.
Um acordo em fevereiro estabeleceu um cessar-fogo. Mas a Ucrânia alega que os russos não estão cumprindo sua parte de retirar as armas do país.
Para Vyacheslav Koloskov, ex-vice-presidente da Fifa e cartola russo, a tentativa de boicotar a Copa “vai fracassar”. Ele lembra que o mesmo ocorreu durante a Olimpíada de Inverno de Sochi, em 2014. O evento, porém, ocorreu antes da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Houve também uma tentativa de boicotar Sochi. Mas ninguém foi capaz de fazer qualquer coisa e acho que é isso que vai ocorrer de novo”, declarou. “Joseph Blatter (presidente da Fifa) sempre diz que política é política e que futebol é futebol. Mas ele não vai deixar que o boicote ocorra.Na Ucrânia, eles nem sabem mais o que querem. Nós teremos a Copa e a sediaremos muito bem”, insistiu.
Em 1980, os EUA conseguiram convencer aliados de todo o mundo capitalista a boicotar os Jogos Olímpicos de Moscou depois que o Kremlin invadiu o Afeganistão. Desta vez, porém, seriam empresas como a Coca-Cola que mais sofreriam. A multinacional americana é uma das maiores patrocinadoras da Copa, ao lado de outros pesos pesados do Ocidente.
Para Koloskov, há simplesmente muito dinheiro envolvido e, mesmo para uma seleção, a punição de ficar fora do Mundial representaria enormes prejuízos com seus patrocinadores. Ainda assim, senadores americanos e parlamentares britânicos chegaram a apoiar a ideia do boicote.
Na Fifa, nenhum comentário foi feito sobre a proposta de Kiev. Mas a assessoria da entidade lembrou que, em setembro, Blatter deixou claro que “o boicote no esporte nunca funciona”. Admitiu, porém, que russos e ucranianos serão colocados em grupos diferentes no Mundial, caso a Ucrânia se classifique.