Estadão

Por que brasileira Patrícia Lélis é procurada por fraudes de US$ 700 mil nos EUA?

A jornalista Patrícia Lélis, de 29 anos, é acusada por fraudes financeiras avaliadas em US$ 700 mil, o que equivale a mais de R$ 3,4 milhões nos Estados Unidos. De acordo com autoridades do Estado da Virgínia, ela prometia regularizar a situação de estrangeiros no país por meio de um visto que fornece residência e, em alguns casos, cidadania mediante investimento em empresas norte-americanas. A jornalista se apresentava como mediadora do processo, mas captava os recursos das vítimas para sua conta bancária pessoal.

No Brasil, Patrícia Lélis é conhecida por já ter acusado políticos na Justiça e mudar repentinamente de posicionamento político. Ela já acusou Marco Feliciano (PL-SP) por tentativa de estupro, mas o processo acabou arquivado. A jornalista afirma já ter mantido um relacionamento com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também já foi alvo de uma denúncia da ex-militante bolsonarista, que mudou de lado e passou a se declarar petista. No PT, por sua vez, ela acabou expulsa sob acusações de discurso de ódio.

<b>Acusações contra políticos</b>

Até agosto de 2016, Patrícia Lélis era militante do Partido Social Cristão (PSC), legenda hoje incorporada ao Podemos que, até então, abrigava Jair Bolsonaro. Ela rompeu com o partido conservador ao acusar o deputado federal Marco Feliciano de tentativa de estupro, assédio sexual e agressão.

Na ocasião, ela também denunciou Talma Bauer, chefe de gabinete do político, por mantê-la em cárcere privado e, supostamente, tê-la obrigado a publicar vídeos negando as acusações contra o pastor. A queixa contra Talma Bauer estava no âmbito da Polícia Civil de São Paulo. Ao fim do inquérito, em agosto de 2016, Patrícia Lélis acabou indiciada por denunciação caluniosa e extorsão.

Em dezembro de 2018, o Ministério Público do Distrito Federal finalizou a investigação aberta contra Marco Feliciano. O MP alegou "não vislumbrar elementos mínimos para a propositura de ação penal" e o juiz Aimar Neres de Matos, 4ª Vara Criminal de Brasília, arquivou o processo.

Em 2017, enquanto a apuração sobre a denúncia contra Feliciano ainda estava em curso, a jornalista se envolveu em mais uma queixa relacionada a um deputado federal do PSC, dessa vez contra Eduardo Bolsonaro, por suposta troca de mensagens ameaçadoras.

A denúncia por injúria contra Eduardo Bolsonaro chegou a ser apresentada ao STF, mas seguiu para a primeira instância de Brasília e, ao fim das investigações, em julho de 2019, também terminou arquivada por falta de materialidade.

<b>Ex-bolsonarista e ex-petista</b>

A vida pública de Patrícia Lélis é marcada por mudanças repentinas de posicionamento político. Após ficar conhecida como militante pró-aborto, migrou para o PSC de Bolsonaro para, em seguida, dar uma guinada de viés, declarando-se petista e entusiasta de Luiz Inácio Lula da Silva.

Em publicação no Facebook em 2017, Lélis afirmou que Lula a havia "recebido" e ela tinha se desculpado pelos anos de militância contra o PT. A jornalista publicou o texto como legenda de uma foto em que aparecia abraçada ao petista. Na época, o Instituto Lula informou que a fotografia havia sido feita em um seminário em que o presidente abraçava e concedia fotos a todos que assim pediam.

Em 2018, mesmo período das denúncias contra Eduardo Bolsonaro e Marco Feliciano, ela se candidatou a deputada federal pelo PROS, mas não foi eleita. Lélis, em seguida, filiou-se ao PT, mas foi expulsa do partido em 2021 sob acusações de transfobia.

Ao comentar nas redes sociais sobre o uso de banheiros públicos por pessoas transgênero, setores do partido pressionaram pela expulsão da jornalista. "O PT jamais compactuará com narrativas de ódio e preconceito", disse a legenda em nota publicada em 2021.

<b>Entenda o indiciamento de Patrícia Lélis nos EUA</b>

Na Justiça americana, Patrícia Lélis foi formalmente acusada pelo "grande júri", instituição responsável pela fase de inquérito, e é procurada pelo FBI (Federal Bureau Investigation), órgão do governo americano que equivale à Polícia Federal. De acordo com as autoridades locais, ela se apresentava às vítimas como advogada de assuntos relacionados à imigração.

Os vistos E-2 e EB-5 garantem residência fixa nos Estados Unidos, mas exigem, em contrapartida, investimentos do interessado – "recursos substanciais", segundo a legislação – para criação de empregos em empresas norte-americanas.

Segundo a Procuradoria da Virgínia, a investigação coletou indícios de que Lélis, em posse dos recursos, os utilizou em benefício próprio. "Em vez de investir o dinheiro conforme prometido, (Patrícia) Lélis supostamente o usou para pagar a entrada de sua casa em Arlington (Texas), reformas de banheiros e outras despesas pessoais, como dívidas de cartão de crédito", afirma a Procuradoria.

A jornalista rechaçou a denúncia e disse ser vítima de perseguição do governo dos Estados Unidos por ter acessado documentos sigilosos que comprovariam o interesse do país no petróleo venezuelano. "Meu suposto crime: não aceitei que me fizessem de bode expiatório", disse Lélis no X (antigo Twitter).

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