Corpo de Claudia Jimenez é cremado no Rio de Janeiro
Considerada uma das responsáveis pelo sucesso inicial de Sai de Baixo, Claudia Jimenez morreu neste sábado, 20. A atriz interpretou a empregada Edileuza no seriado da Globo, mas somente em sua 1ª temporada, depois, saiu. "Aquele programa foi um rio poluído que passou em minha vida", lamentava.
A artista foi demitida da atração no início de 1997. Uma reportagem da <i>Folha de S. Paulo</i>, publicada em janeiro daquele ano, trazia diversas das informações veiculadas pelos jornais e TVs da época sobre o caso. Entre os supostos motivos para sua demissão, "atritos com a produção, desobediência à diretoria, críticas ao texto, brigas com colegas ficou seis meses sem falar com Marisa Orth".
Claudia Jimenez deu a sua própria versão dos fatos poucos meses depois, em uma longa entrevista ao <b>Estadão</b> publicada em 25 de março de 1997. Nela, fez críticas aos bastidores da atração, em especial à direção: "Depois de ser mandada embora pelo Daniel (Filho, diretor-geral do Sai de Baixo) senti um alívio tão grande, fiquei tão feliz, que precebi o quanto estava infeliz".
<b> Isso não é humor </b>
"Em Sai de Baixo, eles usavam o humor fácil. Chamavam a velha de velha, o burro de burro e a gorda de gorda. Isso não é humor. Trabalhei quatro anos com o Jô Soares, 12 com o Chico Anysio e nunca me lembrei que era gorda. Não tenho mais saco para isso. Isso não é comédia, é o óbvio".
Sobre a suposta má relação com os colegas, dizia: "Nunca tive problemas com o elenco. Eu e a Marisa Orth nos ligamos quase todo dia e ficamos uma hora no telefone. As pessoas embarcaram na história do Cláudio Paiva redator do programa. Ele ficou irritado porque reclamei do texto e inventou que eu estava chateada porque a Marisa estaria fazendo mais sucesso do que eu. Sempre fomos amigas".
Sobre o início dos desentendimentos nos bastidores do Sai de Baixo, Claudia Jimenez explicava: "Enquanto o Daniel Filho dirigia, estava tudo bem, porque ele tinha pulso para administrar um elenco cheio de estrelas. Afinal, no palco não tinha nenhum medíocre, todos têm carreira bem definida. Sentávamos e discutíamos o texto. Ele nos dava uma possibilidade tão grande de trabalho que as falhas do texto eram resolvidas pelo elenco".
<b> Faltou pulso </b>
"Entraram o Cécil Thiré, depois o Dênis Carvalho e o José Wilker. As falhas do texto tinham de ser resolvidas, mas a quem a gente ia ouvir? O elenco tinha mais força que a direção. Faltou pulso. Perdemos a noção de conjunto, de grupo, e começamos a trabalhar em função dos desejos individuais. O texto era fraquíssimo, não tinha piada, nós fazíamos as piadas".
Antes de sua saída, a atriz ainda tentou conciliar a situação: "Telefonei para o Daniel Filho e pedi que voltasse à direção. Disse a ele que no próximo ano não aceitaria mais ser xingada no palco e pedi: Não abandone a gente . Numa reunião, disse para o Wilker: Olha, não acredito no seu trabalho de diretor. Acho que essa não é sua praia, mas vamos insistir". Em outra reunião, coloquei as cartas na mesa com a maior sinceridade e, no dia seguinte, fui mandada embora pelo Daniel. Ele até tinha razão, porque quem não está satisfeito tem de sair".
<b> Ele mentiu para justificar minha demissão </b>
"O que pegou foi ele mentir para justificar minha demissão. Ele não pode dizer que não sou talentosa porque isso já foi legitimado pelo Brasil. Ele disse que eu tratava mal pessoas humildes. Ora, pode perguntas às pessoas do teatro se isso é verdade", dizia, antes de revelar que havia rompido relações com Daniel: "Para mim, ele morreu".
Questionada se não teria sido mais proveitoso pedir demissão em vez de esperar ser demitida, Claudia Jimenez avaliava: "Mesmo com anos de análise a gente só elabora as coisas depois que acontecem. A agressão da direção do programa comigo foi tão grande que só passei a enxergar quanto eu os ameaçava, na medida em que questionava o trabalho deles depois que saí. Eu achava que estava lutando para melhorar o programa. Afinal, fui convidada para fazer uma comédia de situações."
Apesar das brigas, ela garantia não levar mágoas: "Desejo que o programa faça o maior sucesso, que as pessoas trabalhem felizes, que se sintam felizes".
<b>Ausência em Sai de Baixo: O Filme </b>
Sai de Baixo ficou no ar entre 1996 e 2002. Além de Claudia Jimenez, outro que deixou o elenco de forma conturbada foi Tom Cavalcante, após a temporada de 1998. O programa ganhou um revival com novos episódios em 2013, novamente sem a dupla. Anos depois, foi anunciado o lançamento de Sai de Baixo: O Filme, desta vez com a participação de Tom Cavalcante, mas com Cacau Protasio no papel de empregada.
Em entrevista ao TV Fama, em 2018, a atriz foi questionada sobre a ausência no projeto, mas desconversou: "Não aconteceu nada, eu só não quis fazer. Já foi, entendeu? Não rola mais".