Estadão

Porto Alegre remove famílias de mais um bairro e teme nova enchente recorde nesta terça

Prognósticos apontam que o Lago Guaíba pode bater novamente o recorde histórico de cheia, ao alcançar 5,4 metros nesta terça-feira, 14. O avanço das águas de importantes rios do Rio Grande do Sul em direção à região metropolitana após chuvas intensas no fim de semana gerou o esvaziamento de mais áreas na noite de segunda-feira, 13, com a saída de cerca de 300 famílias do Lami, no extremo sul de Porto Alegre. A prefeitura evita o termo "evacuação", embora a remoção tenha sido realizada pela Defesa Civil Municipal.

É quase uma "enchente dentro da enchente", pois a inundação ainda prosseguia nas ilhas e em diversos bairros das zonas norte, sul e central quando o Guaíba voltou a subir. Especialmente no extremo sul, o vento e grande volume de água criou ondas, assustando moradores de bairros da orla, como Belém Novo. A cota de inundação é de cerca de 2,1 metros nas ilhas e de 3 metros no centro.

Além do aumento do nível do Guaíba, o transbordamento parcial de uma barragem no domingo, 12, trouxe apreensão a moradores da Lomba do Sabão, na divisa de Porto Alegre com o município de Viamão. A prefeitura orientou a saída de moradores do entorno, mas tem ressaltado que não há risco de rompimento. Entre as represas em monitoramento no Estado, está em situação de "atenção".

Segundo a prefeitura, cerca de 157,7 mil pessoas e 39,4 mil edificações foram diretamente afetadas pelas enchentes na cidade. Os bairros mais impactados são Arquipélago, Sarandi, Menino Deus, Farrapos, Humaitá, Cidade Baixa, Floresta, Centro Histórico, Ponta Grossa, São Geraldo, Navegantes e Lami.
O município divulgou um balanço parcial de estabelecimentos impactados. Veja alguns abaixo:

– 163 escolas (100 privadas e 63 públicas);
– 45,9 mil empresas (29 mil comércios, 11,3 mil de serviços e 5,4 mil indústrias);
– 14 postos de saúde, 3 clínicas da família, 2 farmácias populares e ao menos um hospital;
– 186 praças praças e 12 parques e largos.

O boletim mais recente do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS destaca que a "principal preocupação do momento é a nova elevação de níveis em função das chuvas ocorridas e efeito do vento". A previsão é de que o Guaíba chegue a cerca de 5,4 metros. "Todos os cenários de previsão reafirmam cheia duradoura", destaca. Veja abaixo mapa com os cenários possíveis.

<b>Porto Alegre bateu recorde histórico duas vezes em uma semana
</b>Entre leigos, parecia distante (alguns diriam impossível) que se chegasse próximo do recorde de 4,76 metros registrado em 1941. A marca foi superada não apenas uma, mas duas vezes em meio à calamidade que vive o Estado, respectivamente nos dias 3 e 13 de maio, após um recuo das águas até 4,57 metros, no sábado, 11. Às 10h desta terça, o Guaíba estava em 5,2 metros, com tendência de subida.

Como grande parte do Rio Grande do Sul, a capital está em estado de calamidade. Há desabastecimento parcial de água e energia, escassez de mantimentos em mercados e diversos bloqueios em vias e estradas do entorno.

Com a chuva no fim de semana, a Grande Porto Alegre tem recebido grande volume de águas de importantes rios que deságuam no Guaíba, como o Caí, o Taquari e o dos Sinos. No interior, novos deslizamentos e inundações ocorreram ao longo do fim de semana.

Além disso, a chegada de uma massa de ar polar diminuiu a temperatura para cerca de 10ºC nesta manhã. A situação trouxe preocupação para angariar cobertores e agasalhos para os desabrigados e a população que está nas ruas.

Parte dos alagamentos na capital gaúcha estão ligados a problemas no sistema anticheias, que chegou a ter apenas quatro das 23 casas de bombeamento de água em funcionamento. Na manhã desta terça, oito estavam em operação.

Com parte dos postos de saúde afetados, a cidade está com um hospital de campanha junto à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, na zona norte. O serviço tem capacidade de atender mais de 200 pessoas por dia.

Segundo a Defesa Civil, ao menos 2,1 milhões de pessoas foram afetadas em 450 dos 497 municípios gaúchos. Desse total, pelo menos 76,8 mil estão em abrigos cadastrados e 538,5 mil estão na casa de amigos, parentes e conhecidos.

"Nas últimas 24 horas não foram registradas chuvas significativas no Estado. No entanto, está ocorrendo a propagação das cheias na Região Hidrográfica do Guaíba. (…) O Rio dos Sinos está em elevação e o rio Gravataí está seguindo o padrão do Guaíba", diz boletim de monitoramento hidrológico da Defesa Civil desta terça.

"O nível do Guaíba mostrou estabilidade nas últimas duas horas, porém é esperado que volte a subir ao longo do dia, devido à chegada do pico da cheia do Taquari. Isso significa que o Guaíba possivelmente irá ultrapassar os níveis da cheia da semana passada. Quanto à Lagoa dos Patos, ela continua com níveis elevados, mas se observa um comportamento de estabilidade, tendendo para declínio lento dependendo da região", completa.

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