Os portugueses vão às urnas no próximo domingo, 24, em uma eleição presidencial marcada mais pela pandemia do que pela previsível vitória do conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que busca um novo mandato. Diante da explosão de casos de covid-19, que fez Portugal ocupar o primeiro lugar no mundo em novos casos no que diz respeito à população, não haverá nenhuma manifestação nesta sexta-feira, 22, último dia da campanha eleitoral.
O estado de emergência sanitária instalado em novembro e o segundo confinamento geral, decretado há uma semana, não perturbaram o calendário eleitoral do país, fixado em lei e praticamente inalterável. Dada a impossibilidade de adiamento das eleições, candidatos e observadores temem uma abstenção recorde, o que pode impactar na confiabilidade das pesquisas, unânimes em dar a vitória do atual presidente no primeiro turno.
Para estimular a participação dos cerca de 9,8 milhões de eleitores cadastrados – 1,5 milhão deles no exterior – as autoridades eleitorais organizaram, pela primeira vez uma votação antecipada. Cerca de 200 mil eleitores participaram no último domingo, 17.
Com o número de mortos de covid-19 quebrando recordes todos os dias, o governo decidiu aumentar as restrições e ordenou o fechamento de escolas por duas semanas a partir de sexta-feira. Equipes de voluntários têm ido de porta em porta coletar as cédulas de cerca de 13 mil pessoas colocadas em quarentena ou confinadas em asilos.
Há um ano, quando as eleições foram anunciadas, pareciam ser um mar de rosas para o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ex-professor de direito de 72 anos que ficou conhecido como comentarista político na televisão, afirmou a cientista política Paula Espírito Santo, da Universidade de Lisboa. "Mas pode não ser tão simples".
"Basta que haja uma abstenção de 70% para um segundo turno ser quase inevitável", alertou o próprio Rebelo de Sousa esta semana, que disputará a posição com seis rivais. Os quatro presidentes que Portugal conheceu desde a chegada da democracia em 1974 foram reeleitos no primeiro turno.
O atual chefe de Estado, muito popular desde sua eleição há cinco anos, conviveu sem dificuldades com os socialistas do primeiro-ministro Antonio Costa, que para evitar uma derrota certa descartaram a candidatura.
No entanto, esse cenário tão previsível pode desmotivar os partidários do presidente para irem às urnas, ainda mais considerando que uma parte da direita o acusa de ter sido muito complacente com o primeiro-ministro, que chegou ao poder pouco antes dele graças ao apoio da esquerda radical.
Uma surpresa das eleições poderá vir do candidato da direita populista, André Ventura. Depois de ter fundado o partido antissistema Chega, o jurista de 38 anos ingressou no Parlamento nas eleições legislativas de 2019 com 1,3% dos votos.
A maioria das pesquisas lhe dá um terceiro lugar, muito parecido com a ex-deputada socialista Ana Gomes, de 66 anos. A diplomata de carreira, altamente crítica do primeiro-ministro Antonio Costa, tornou-se uma forte ativista anticorrupção antes de se lançar na corrida presidencial.
Em Portugal, o chefe de Estado não tem o poder executivo, mas desempenha o papel de árbitro em caso de crise política e pode dissolver o Parlamento para convocar eleições legislativas antecipadas.