A empresa canadense que foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira, 2, em referência a planos de exploração de potássio no Brasil, concentra nada menos que 149 pedidos ativos de exploração do mineral em diversos municípios do Pará e do Amazonas. Os dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) apontam que a Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense de investimentos Forbes & Manhattan, aguarda a conclusão do processo ambiental de dezenas de projetos para dar início efetivo à exploração no País.
No vídeo de 2016 publicado por Bolsonaro nas redes sociais quando era deputado federal, o presidente criticou que os direitos minerários na região "estão nas mãos de uma empresa canadense" e disse que essas explorações teriam sido "acertadas via Petrobras, Deus lá sabe como". Bolsonaro não dá detalhes sobre suas afirmações. "Ou seja, não podemos explorar nosso próprio potássio", conclui.
Na gravação, Bolsonaro critica a dependência do insumo do agronegócio que é importado da Rússia e que o Brasil precisa buscar sua produção local, mas que a atuação dos canadenses é um dos "problemas" a serem resolvidos.
O fato é que, com Bolsonaro já na Presidência, a empresa não apenas deu andamento a processos mais antigos, como apresentou oito novos pedidos de exploração desde janeiro de 2019, mirando em áreas de exploração em municípios como Autazes, Itacoatiara e São Sebastião do Uatumã, no Amazonas.
O banco canadense de investimentos Forbes & Manhattan também está por trás do projeto da mineradora Belo Sun, que pretende implantar um projeto de exploração industrial de ouro no Pará, na região da hidrelétrica de Belo Monte. Nos últimos anos, conforme revelou o <b>Estadão</b>, a empresa adquiriu irregularmente uma série de terrenos de reforma agrária na região, para abrir espaço para a sua exploração.
Em fevereiro, reportagem da <i>Agência Pública</i> revelou que, apesar das críticas passadas de Bolsonaro à atuação canadense na região, seu governo tem atuado diretamente nos processos minerários com o banco Forbes & Manhattan para acelerar a liberação dos projetos. O apoio tem incluído membros ligados às Forças Armadas no Executivo e chegou até o vice-presidente da República e general da reserva do Exército Hamilton Mourão, que fez reuniões em Brasília para tratar do assunto.
A reportagem questionou a Potássio do Brasil sobre a situação dos seus empreendimentos no País, mas não houve posicionamento até a publicação desta matéria. Hoje, os projetos ainda aguardam a conclusão do processo de licenciamento ambiental para serem efetivados. Apesar de todo o envolvimento do governo federal com o tema, as autorizações ambientais não passam pelo Ibama, mas por licenças a serem emitidas por órgão estadual.
É grande a controvérsia, porém, em regiões que podem ter impacto indireto em terras indígenas. A empresa realiza consultas públicas neste momento, como parte do processo de licenciamento.
A Potássio do Brasil tem a sua base em Autazes, a 120 quilômetros de Manaus, onde está o depósito mineral identificado pela empresa. Em junho do ano passado, a empresa informou que "deu um passo firme e muito importante" no processo de licenciamento ambiental de outro empreendimento, o "Projeto Potássio Itapiranga".
Foi protocolado junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) o requerimento para a obtenção da licença prévia do projeto, para produção de fertilizantes de potássio no município a 226 km de Manaus. A previsão é produzir cerca de 2 milhões de toneladas de fertilizantes de potássio por ano.
Até o ano de 2020, a empresa afirma que foram investidos mais de US$ 190 milhões na descoberta e desenvolvimento de seus projetos no Brasil e outros US$ 2 bilhões serão investidos até o final da construção de suas operações.
O Brasil adquire no exterior aproximadamente 85% do volume de fertilizantes aplicado anualmente nas lavouras. A Rússia é uma das principais exportadoras do insumo para o Brasil e, em janeiro, respondeu por 30,1% dos adubos e fertilizantes que entraram em território nacional, segundo informações do Ministério da Economia. Durante os 12 meses do ano passado, os russos foram responsáveis por 23,3% de todo fertilizante que entrou no Brasil.
As relações comerciais do Brasil com a Rússia estão majoritariamente concentradas na compra de fertilizantes. Dos US$ 5,7 bilhões em importações brasileiras da Rússia em 2021, US$ 3,5 bilhões – ou 62% do total – estão relacionados à compra do insumo usado no agronegócio. Esse resultado do ano passado foi 97% superior ao registrado em 2020, quando o Brasil desembolsou US$ 1,75 bilhão na importação desses produtos.