Opinião

POUCA ÁGUA EMBAIXO DA PONTE

Coluna do jornalista Ernesto Zanon que conta um pouco sobre a trajetória do Saae desde que o PT chegou à Prefeitura de Guarulhos em 2001

Início de 2001, o então prefeito Elói Pietá (PT) no começo de sua primeira gestão tinha o bom costume de convocar entrevistas coletivas para atender a imprensa da cidade e praticar o que mais gostava: tecer críticas ao que ele chamava de “herança maldita”, para justificar o caos que teria encontrado na Prefeitura após as administrações de seus antecessores, velhos adversários políticos.

Em uma dessas coletivas, a estrela era o hoje prefeito Sebastião Almeida, que acabara de assumir o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Eleito vereador em 2000, nem chegou a exercer a vereança já que foi convocado para tocar a autarquia responsável pelo abastecimento de água na cidade, na época apontado como um problema crítico. Cercado de técnicos e “professores de Deus”, não demorou para Almeida, seguindo seu chefe, desfilar uma série de críticas às gestões passadas.

Falava com muita propriedade que iria resolver o abastecimento de água em Guarulhos naquela gestão. Para tanto, anunciava a criação de um plano diretor de abastecimento, já que as redes estavam completamente deterioradas, os reservatórios existentes não davam conta da demanda, entre outros detalhamentos cheios de “propriedade”. Mas uma das maiores bandeiras era tirar Guarulhos da dependência da Sabesp, já que o município não produzia água para atender sua demanda e precisava se curvar a empresa estadual, que fornecia quase a totalidade da água consumida na cidade.

Fruto da tal “herança maldita”, o Saae encontrava-se inadimplente e com riscos de a Sabesp fechar as torneiras para a cidade. A falta de água em Guarulhos era realmente alarmante. Havia regiões que ficavam semanas inteiras sem um pingo do precioso líquido em suas torneiras. Os jornais locais não se cansavam de publicar belas fotos de pessoas simples carregando baldes na cabeça por ruas de terra da periferia.

Treze anos inteiros se passaram. O então presidente do Saae criou a ONG Água e Vida, elegeu-se deputado estadual e ainda prefeito de Guarulhos duas vezes seguidas. Nesse período, o que mudou? Não há mais localidades que ficam semanas inteiras sem o precioso líquido nas torneiras? As latas d´água na cabeça não são mais vistas? Está tudo correndo às mil maravilhas? Não é bem assim. Alguns reservatórios foram construídos em bairros distantes, graças a verbas federais. As latas foram substituídas por caminhões-pipas. Houve uma certa melhora no abastecimento em determinadas localidades. Onde antes tinha um dia com água e três sem passou a um com outro sem numa situação que perdura já há um bom tempo.

Porém, nada de plano diretor de abastecimento. Nada de uma nova rede de poços profundos. Nada de investimentos na busca de formas inovadoras de fugir da dependência da Sabesp. Alternativas para ter mais fontes de recursos hídricos? Não. Lógico que alguma coisa aconteceu. Por meio de muita propaganda oficial, o Saae diz que diminuiu as perdas de águas, se bem que nesta semana um vazamento a menos de um quilômetro da sede da empresa no Bom Clima demorou mais de dez horas para ser sanado.

Ano passado um vazamento no Centro que começou na sexta-feira à noite fez jorrar água por quase 60 horas. A alegação da autarquia foi que não ficou sabendo do vazamento e as equipes só foram sanar o problema depois de meio-dia da segunda-feira. Ou seja, ainda falta muito a ser feito por essa administração, que agora – sob o iminente risco de faltar água por parte da Sabesp – se desespera e vem falar em racionamento. Como se o guarulhense já não sofresse com a falta d´água. Dizer que meia dúzia de bairros, devido à seca, passou a ter abastecimento dia sim dia não é conversa para boi dormir. Pior é que muitos dormem. Acreditam e propagam tal falácia.

Passa da hora de encontrar culpados pela ineficiência no sistema de abastecimento. O Saae tem a obrigação de resolver os problemas. Atribuir a responsabilidade à Sabesp é fácil. Por que a autarquia municipal é ainda tão dependente ? Existem muitas perguntas ainda que nunca foram respondidas. O fato é: não dá mais para repetir as mesmas desculpas de sempre. E já dizia Renato Russo em uma de suas canções: “Desculpas nem sempre são sinceras… Quase nunca são”. 

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