O Sistema Cantareira, que abastece mais de 7 milhões de pessoas na região da Grande São Paulo, opera nesta terça-feira, 12, em nível de alerta, com apenas 38,4% de sua capacidade. O nível é o mais baixo do reservatório para o mês de julho desde 2015, quando o manancial quase secou e foi necessário usar o volume morto, reserva técnica de água abaixo das comportas, para evitar o desabastecimento total da população.
Formado por um conjunto de cinco reservatórios interligados por túneis e canais, o sistema vem operando em nível de alerta, abaixo dos 40% de sua capacidade, desde o dia 28 de junho. Em julho do ano passado, o volume do Cantareira era de 44%. Já a média histórica deste mês é de 46,5%. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que opera o sistema, afirma que não há risco de desabastecimento porque os sistemas que abastecem a Grande São Paulo são interligados e os outros estão com mais disponibilidade de água.
O volume do Alto Tietê está em 58,1% nesta terça; o do Guarapiranga em 72,1%; o do Cotia em 79,0%; o do Rio Grande em 95,5%; o do Rio Claro em 43,0%; e o do São Lourenço em 85,3%. Desses, apenas o Cantareira e o Rio Claro tinham volumes abaixo da média histórica. Com isso, o volume total armazenado nos mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo estava em 53,5%.
<b>Regras para captação</b>
Uma resolução conjunta do Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), órgão federal, e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) do Estado de São Paulo, baixada em 2017, estabeleceu regras para a captação de água no Cantareira pela Sabesp, levando em conta o volume armazenado. A situação é normal quando o nível do reservatório é igual ou maior que 60%; de atenção, quando é igual ou maior que 40% e menor que 60%; de alerta, quando está maior que 30% e menor que 40%; de restrição, quando é maior que 20% e menor que 30%; e especial, quando o volume acumulado é menor que 20%. Estas faixas orientam os limites de retirada de água do sistema.
Quando o volume está normal, a Sabesp pode retirar até 33 mil litros por segundo, quantidade que é reduzida à medida que o nível do sistema recua. O Cantareira também é responsável por manter a vazão efluente (abaixo dos reservatórios) dos rios que abastecem seus reservatórios, como o Jaguari e Atibaia, formadores do Rio Piracicaba. Cidades como Campinas, Valinhos e Jaguariúna dependem dessa vazão para seu abastecimento.
<b>Estiagem mais longa</b>
Na segunda-feira, 4, o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) emitiu nota de alerta às prefeituras dos 40 municípios que o integram sobre a "insistente redução das precipitações (chuvas) durante o ano de 2022, o que tem afetado a disponibilidade hídrica da região, com possíveis impactos à oferta de água". Conforme o Consórcio PCJ, o período de estiagem começou mais cedo este ano e deve se prolongar até outubro.
No mês de junho, segundo dados da equipe técnica do Consórcio PCJ, as chuvas ficaram 59,8% abaixo da média histórica em toda a bacia hidrográfica. O índice pluviométrico médio do último mês foi de 20,14 milímetros, quando o esperado seria de 50,14 mm. "Esse comportamento tem sido verificado em todos os meses de 2022, à exceção apenas de janeiro, quando as chuvas foram acima da média", disse, em nota.
A queda acentuada das precipitações, afirma o consórcio, repercute na vazão dos mananciais, como os do Sistema Cantareira, que é também a principal reserva de água das bacias de regiões populosas do interior, como as de Campinas e Jundiaí. "As previsões para os próximos meses indicam a queda contínua desse volume devido à pouca ocorrência de chuvas, temperaturas elevadas e baixa umidade do ar. Nesse momento, é necessária uma campanha de conscientização sobre o cenário hidrológico para que a comunidade seja o menos impactada possível", alertou.
<b>Comitê de crise</b>
O presidente do Consórcio PCJ e prefeito de Limeira, Mário Botion (PSD), recomendou que as prefeituras organizem rapidamente comitês de crise para o enfrentamento de possíveis restrições no consumo de água. "A estiagem avança de modo muito intenso e é necessário que os municípios, empresas, o campo e a comunidade em geral estejam prontos para momentos de restrições e escassez de água nos próximos meses, por isso, o consórcio pede que as prefeituras montem comitês de gestão de crise com a participação de diversos segmentos da sociedade e já tracem planos de ação e contingenciamento", disse.
Fazendo a lição de casa, Motion já criou esse comitê em Limeira. A cidade de 310 mil habitantes é abastecida pelo Rio Jaguari e pelo Ribeirão Pinhal, ambos com nível abaixo do esperado para esta época. Já há campanhas contra o desperdício de água. "Estamos empenhados em conseguir o apoio da população para usar apenas a água necessária neste período", afirmou.
Conforme a pesquisadora Ana Maria de Ávila, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), desde 2018 as chuvas anuais não atingem a média no Estado de São Paulo. "Essa é uma questão climática, mas também de adaptação e planejamento, pois essas condições tendem a se tornar recorrentes", disse. Na região do Cantareira e das bacias do PCJ, o período de reposição das águas nos mananciais acontece nos meses de verão, sobretudo entre dezembro e fevereiro. "O problema é que as chuvas ficaram abaixo do esperado nesse período. Agora no inverno é quando ocorrem os menores valores mesmo."
À exceção de janeiro, segundo ela, todos os meses deste ano ficaram com chuva abaixo da média e não há como prever com bastante confiabilidade como e quando ocorrerá o retorno das chuvas na primavera. "O que temos verificado é que o início da estação de chuvas tem atrasado e começado lá para o fim de outubro ou começo de novembro. Quando o volume de chuva é menor por um longo período, acontece a chamada seca hidrológica, como a que estamos tendo."
<b>Sem risco</b>
O presidente da Sabesp, Benedito Braga, disse que, mesmo com o quadro de escassez de chuvas, não há risco de desabastecimento na região metropolitana de São Paulo. "O estado de alerta dá a impressão de que estamos em perigo, mas não estamos. No entanto, a população tem de economizar água sempre, e ela está consciente disso", afirmou.
Segundo ele, depois da grande crise hídrica de 2014 e 2015, a Sabesp investiu em obras de infraestrutura para transferir 7,5 mil litros de água por segundo do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira e, através do Sistema São Lourenço, fornecer mais 4,5 mil litros por segundo para abastecer a Grande São Paulo. "Também fizemos a interligação dos sistemas, o que nos permitiu transferir uma área antes abastecida pelo Cantareira para os sistemas Alto Tietê e Guarapiranga. Com isso, dos 9,5 milhões que dependiam do Sistema Cantareira, hoje são cerca de 7 milhões. Tudo isso, associado ao uso racional (da água), nos dá segurança de passar esse período sem problemas", disse.
<b>Situação é melhor</b>
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico informou que, apesar do nível mais baixo do Sistema Cantareira, a situação deste ano, em termos de armazenamento de água nos reservatórios da Região Hidrográfica do Paraná, que engloba as principais bacias da Região Sudeste, está consideravelmente melhor do que em 2021.
A água armazenada é usada tanto para abastecimento como para produção de energia elétrica, além de garantir os estoques pesqueiros e a navegabilidade. Na bacia do Rio Grande, entre Minas Gerais e São Paulo, o maior reservatório, que é o de Furnas, está com mais de 80% do volume útil.
No Rio Paraná, o de Ilha Solteira, entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, está com mais de 60%. Na bacia do Paranaíba, que além de Minas Gerais, engloba Estados do Centro-Oeste e o Distrito Federal, os reservatórios principais estão variando de 32% a 72%, já que no Centro-Oeste houve chuvas abaixo da média nos últimos meses. Na bacia do Paranapanema (entre Paraná e São Paulo) o principal reservatório, que é Jurumirim, está com mais de 58%. Na bacia do Tietê (São Paulo) os reservatórios estão variando entre 62% e 94%.