As paralisações de ontem contra as reformas da Previdência e Trabalhista, defendidas pelo governo federal, deveriam deixar algumas lições, mas que nunca são assimiladas por mais quem precisa aprender. Sem entrar no mérito sobre o tema, passa da hora de entidades, como as centrais sindicais, agirem de formas inteligentes de protestos sem atrapalhar a vida de milhões de pessoas que – muitas vezes – pensam bem diferente sobre as nobres causas.
Falsa greve
Paralisar os serviços de transporte público é estratégico para o sucesso de qualquer movimento que deseja parar uma cidade. Deixar São Paulo sem metrô e Guarulhos sem ônibus, nas primeiras horas da manhã, torna-se fundamental para que os trabalhadores não consigam chegar em seus empregos. Em tese (já que isso não se concretiza), empresas deixam de produzir e fica a impressão de que o tal protesto teve adesão maior. Trata-se – caso essa funcionasse – da receita ideal de uma “greve geral”.
Contra os trabalhadores
Esta fórmula vencida de protestos vai contra a lógica. Os trabalhadores – de verdade – seguem muito mais preocupadas em encontrar formas de chegar a seus destinos. Quem usa carros fica presa em congestionamentos, exposta a um estresse absurdo, lamentando o tempo perdido. Quem depende de transporte coletivo, além do drama de poder ter o dia descontado pelo empregador, sem saber não tem ideia se irá chegar ao trabalho e se voltará para casa. Já quem incentiva a paralisação, via de regra, não perde nada. Já que é pago – por meio dos impostos sindicais – justamente para atrapalhar a vida dos outros.
Justiça, ora a Justiça?
Em Guarulhos, ontem, grande parte da população ficou sem transporte nas primeiras horas da manhã, apesar de uma decisão judicial obtida pelas empresas – na noite de terça-feira – determinar que 70% da frota circulasse nos horários de maior movimento. O sindicato dos condutores deu as costas para a Justiça e manteve a paralisação, preferindo pagar a multa pelo descumprimento da ordem em vigor.
Espontaneidade
Em tempo, vale salientar que não se quer aqui, de forma alguma, cercear o direito de manifestação da população. Bem diferente disso, há que se defender que o cidadão arregace as mangas e lute por aquilo que julgue direito. Mas de uma forma honesta e espontânea, sem cabrestos, sem manipulações, sem ser conduzido por sindicatos que – em muitos casos – buscam defender interesses pessoais e partidários. Os grandes atos que ajudaram a derrubar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, foram realizados aos domingos, sem atrapalhar o cotidiano das pessoas de bem. Tão simples, não?