Cidades

Prédio abandonado faria parte de esquema liderado por acusado de matar prefeito de Jandira

Obra de responsabilidade de empresa ligada a Néfi Tales não poderia ser comercializada

Um prédio localizado em uma área de luxo na Vila Zaíra, região central, aparece como parte de um esquema que seria liderado pelo ex-secretario de Habitação de Jandira, Wanderley Lemos Aquino, 44 anos, para lavagem de dinheiro, segundo matéria veículada pela TV Record, no último final de semana, em reportagem especial do programa Domingo Espetacular. O edifício teria sido adquirido a partir de desvios de verbas públicas da prefeitura daquela cidade, numa fraude que chegaria a R$ 30 milhões.

Aquino é o principal suspeito da morte do prefeito de Jandira – localizada a 40 quilômetros de Guarulhos -, Braz Paschoalin (PSDB), no final do ano passado.

Segundo a Polícia Civil, parte do dinheiro desviado da Prefeitura teria sido investido na compra de imóveis, sendo um deles o prédio de alto padrão, de duas torres anexas de 10 andares cada, ainda inacabado, em uma região onde o Imposto Predial e Urbano (IPTU) é um dos mais caros de Guarulhos.

A compra do empreendimento, no valor de R$ 4 milhões, teria sido registrada sob número 63.744, no 1º Registro de Imóveis de Guarulhos, conforme documento exibido pela Record. O prédio fica na confluência das ruas Dr. Miguel Vieira Ferreira e Conde Francisco Matarazzo, 263, no Jardim Zaíra.

O imóvel teria sido adquirido, entre 2008 e 2010, com entrada de R$ 200 mil e prestações no mesmo valor. O HOJE apurou que o contrato foi firmado entre um comerciante de São Paulo, que aparecia como proprietário do prédio, com a empresa WI Interprice Comércio de Imóveis, com endereço de Jandira, que pertenceria ao então secretário de Habitação daquela cidade.

Empresa adquirente seria fantasma

No contrato de compra e venda do imóvel, aparece como adquirente a WI Interprice Comércio de Imóveis. No entanto, segundo o HOJE apurou, os dados verificados no documento seriam falsos.

O número de inscrição da firma na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) que aparece relatado no contrato não confere. Nem mesmo o endereço fornecido em Jandira, onde supostamente funcionaria a empresa também não existe. No logradouro daquela cidade, não consta tal numeração e, segundo depoimentos de comerciantes e moradores, ninguém nunca teria conhecimento da empresa no local.

Obra foi paralisada em 1998

O edifício residencial no Jardim Zaíra teve o alvará concedido no final de 1997, em nome da Consmac Indústria, Comércio e Construção Ltda, que era de propriedade da família do ex-prefeito Néfi Tales, falecido em 2003. Em 1998, ele foi acusado de enriquecimento ilícito e acabou afastado da Prefeitura de Guarulhos. O edifício foi arrolado no processo.

Na época, em meio às denúncias contra o prefeito, a obra acabou paralisada e nunca mais foi retomada. A Prefeitura de Guarulhos se tornou a fiel depositária do imóvel, responsável por sua guarda e manutenção.

Segundo o HOJE apurou, o imóvel não poderia ser comercializado, já que o processo não foi concluído pela Justiça. Consultados, familiares de Néfi Tales demonstraram surpresa com o teor da reportagem exibida pela Record, já que o imóvel não poderia ter sido comercializado.

Denúncia se estende a cidades da região metropolitana

O responsável pelas investigações, Zacharias Tadros, delegado de Carapicuíba, afirma que detectou outras cidades que eventualmente estariam participando do mesmo tipo de situação, envolvendo cinco municípios da Grande São Paulo.

Em São Caetano do Sul, o ex-secretário teria adquirido um hospital em nome de sua filha no valor de R$ 600 mil. Outro imóvel é um terreno da 1 milhão de metros quadrados em Embu, cidade turística localizada na região metropolitana. Entres as aquisições que seriam usadas no esquema, o imóvel de Guarulhos seria o de valor mais alto.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, a obra não está embargada e sim, paralisada. A SDU informou ainda que o alvará não tem mais validade, pois a obra está parada há mais de dois anos. Caso a obra seja retomada, os responsáveis terão de solicitar novo alvará.

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