O delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini, presidente do inquérito da Operação Acesso Pago, tomou o depoimento de um grupo de prefeitos sobre o contato que tiveram com os pastores do gabinete paralelo instalado no Ministério da Educação durante a gestão Milton Ribeiro. Os depoimentos ocorreram em março, ainda no início das apurações que culminaram na prisão do ex-ministro, na última quarta-feira, 22.
Uma das oitivas foi realizada com o prefeito Laerte Dourado (PP), de Jaupaci, no interior de Goiás. Ele relatou que o pastor Arilton Moura lhe disse que tinha um acesso bom com o então ministro e o ajudaria a conseguir recursos para a cidade de três mil habitantes.
Dourado foi ouvido por videoconferência e suas declarações foram citadas na representação da Polícia Federal que pediu à Justiça a autorização para interceptação telefônica e cumprimento de mandados de busca e apreensão contra os investigados da Operação Acesso Pago. No documento da PF é registrado que o prefeito de Jaupaci disse que conversou com Arilton no MEC e que o pastor teria oferecido recurso .
A PF gravou em vídeo a sequência de depoimentos dos prefeitos – eles foram ouvidos por ordem da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, quando Milton Ribeiro ainda ocupava o comando do MEC. Além de Dourado, prestaram depoimento à PF os prefeitos Nilson Caffer (PTB), de Guarani D Oeste (SP), Adelícia Moura (PSC), de Israelândia (GO), Doutor Sato (PSDB), de Jandira (SP), e Calvet Filho (PSC), de Rosário (MA).
A gravação do depoimento do prefeito de Jaupari tem seis minutos. Dourado declarou que viu Milton Ribeiro apenas uma vez, no MEC, em um evento no início de 2021, em meio a uma reunião com outros prefeitos. Segundo o político, quem o convidou para o encontrou foi Luciano , pessoa que o prefeito acreditava ser assessor de Arilton. Dourado relatou que Luciano teria uma propriedade em Jaupaci.
Posteriormente a Polícia Federal identificou o Luciano citado por Dourado como o advogado Luciano Freitas Musse. Ele ocupou o cargo de gerente de projetos do Ministério da Educação entre abril de 2021 e março deste ano. Os investigadores chegaram ao nome ao analisar extratos de estadia do Hotel Grand Bittar, em Brasília, identificando registros em nome do advogado e dos pastores Gilmar e Arilton.
Ainda durante o relato à PF, Dourado disse que eles ofereceram diversas coisas para o município. O prefeito afirmou que o motivo para participar da reunião no MEC era uma obra inacabada na cidade. Segundo ele, Arilton perguntou se Jaupaci precisava de uma creche-escola. Ao delegado, Dourado declarou ter dito a Arilton que na realidade precisava acabar a obra já iniciada.
O prefeito diz que foi até Brasília pedir ajuda para terminar a construção, mas na realidade teve prejuízo com o deslocamento – "gastei com hotel e a viagem e não consegui nada".
O depoimento foi colhido no dia 28 de março, dia que o aliado do presidente Jair Bolsonaro pediu demissão da direção do MEC. Dez dias antes, o <b>Estadão</b> publicava a primeira reportagem que revelou a atuação do gabinete paralelo do Ministério com cobrança de propina até mesmo em barra de ouro em troca da liberação de recursos para escolas.
O depoimento do prefeito Laerte Dourado foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal no dia 4 de abril, quando o inquérito ainda estava sob relatoria da ministra Cármen Lúcia. O caso ainda em vias de ser encaminhado para a Justiça Federal de Brasília (primeira instância), em razão da perda do foro por prerrogativa de função de Ribeiro.
Também chegaram ao STF os depoimentos dos prefeitos Nilson Caffer (PTB), de Guarani D Oeste (SP), Adelícia Moura (PSC), de Israelândia (GO), Doutor Sato (PSDB), de Jandira (SP), e Calvet Filho (PSC), de Rosário (MA). Na representação pelas buscas da Operação Acesso Pago, o delegado Bruno Calandrini transcreveu trechos dos relatos dos políticos.