Três prefeitos confirmaram à Comissão da Educação, no Senado, que o pastor Arilton Moura, integrante do gabinete paralelo do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, cobrou propina para liberar recursos da pasta. Eles haviam dado o mesmo relato ao <b>Estadão</b> há cerca de duas semanas.
Milton Ribeiro foi obrigado a deixar o cargo na semana passada após a revelação da cobrança de propina na pasta. O esquema era operado por Arilton Moura e pelo pastor Gilmar Santos, dois amigos do ex-ministro, em troca de liberação de dinheiro para creches e escolas.
O prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), relatou aos senadores que, após uma reunião no Ministério da Educação, foi a um almoço com "20 a 30" colegas. Também participaram da confraternização, segundo ele, Arilton Moura e o pastor Gilmar Santos.
"Ele (Arilton) virou para mim e disse: "cadê suas demandas?". Eu apresentei minhas demandas para ele e ele falou rapidamente. Disse: "olha, você vai me arrumar os R$ 15 mil para mim (sic) protocolar as suas demandas e depois que o recurso já estiver empenhado, você, como a sua região é região de mineração, você vai me trazer 1kg de ouro"", afirmou Braga. "Eu não disse nem que sim nem que não. Me afastei da mesa e fui almoçar."
Aos senadores, o prefeito José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP), relatou que foi a um almoço com os pastores no hotel Grand Bittar, em Brasília. No local, segundo ele, Arilton Moura disse. " Prefeito, você bem sabe como funciona né? . Eu disse: não ", contou.
"Ele disse: Prefeito, o Brasil é muito grande, nós temos mais de 5.600 municípios. Não dá para ajudar todos os municípios . Eu disse: não dá, pastor? . Ele falou: mas eu consigo te ajudar ."
O prefeito contou aos senadores que perguntou a Arilton Moura como seria a "ajuda". Segundo Souza, o religioso acenou com uma escola profissionalizante. "(Arilton teria dito) Você assina um ofício, eu já coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da Igreja Evangélica . Foi onde (sic) eu bati nas costas dele e falei: pastor, muito obrigado, mas para mim não serve, não é desse jeito que funciona ", relatou Souza.
À Comissão de Educação, o prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro (Cidadania), também declarou que Arilton Moura cobrou R$ 15 mil para destravar os recursos durante um almoço no restaurante Tia Zélia, em Brasília. O encontro, segundo ele, ocorreu em 11 de março de 2021 e o pedido foi presenciado por Gilmar Santos.
"Quando chegou o pastor Arilton na minha mesa e me abordou de uma forma assim muito abrupta e direta, dizendo: olha, prefeito, vi aqui que o seu ofício aqui está pedindo a escola de 12 salas. Essa escola aí deve custar uns R$ 7 milhões o recurso para ser liberado, mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje ", relatou.
De acordo com o prefeito, Arilton Moura pediu "uma transferência" imediata para sua conta, porque "esse negócio de para depois, isso não cola comigo, não". Kelton Pinheiro contou que o religioso reclamou da classe política.
"(Arilton Moura teria dito) Vocês políticos são um bando de malandros, não têm palavra. Se não pegar antes, não paga ninguém . Aquilo me deu ânsia de vômito", afirmou o prefeito de Bonfinópolis.