A Prefeitura de São Paulo já fez um levantamento de leitos disponíveis na rede particular, que poderiam se utilizados temporariamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A requisição é uma das medidas previstas no decreto de calamidade pública em vigor.
"Imaginamos que a gente possa fazer acordo e chegarmos a um número de 20% desses leitos de UTI. Algo em torno de 800 novos leitos", disse o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.
"São 247 hospitais privados na cidade de São Paulo. Desses, temos 140 pequenos, com um total de 255 leitos. Mas nós temos 107 que têm 3.970 leitos. São estes que a gente tem priorizado a conversa (por ceder leitos)", disse na segunda-feira, 4, o prefeito Bruno Covas (PSDB).
Há dois locais que já recebem pacientes do SUS, mediante acordo – o Hospital da Cruz Vermelha e o da Unisa (Universidade Santo Amaro). As entidades recebem o preço público (R$ 2.100 a diária). Covas disse que busca acordos, mas não descarta também fazer a requisição legal.
O secretário Edson Aparecido ressaltou que o uso da rede privada é um plano de retaguarda, que só deve se intensificar depois de esgotadas as opções de crescimento da oferta de vagas na rede pública. "Nós já ativamos 717 leitos (de UTI) e devemos chegar a 1.400. Nesta semana, devem ser 150 na Brasilândia e 150 em Parelheiros. O que fizemos com a rede privada é o levantamento. Mas ainda vamos esgotar a rede pública e filantrópica, antes de usarmos os leitos da rede privada."
<b>Disponibilidade</b>
O diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap, disse que foi consultado pela Prefeitura, mas que ainda não recebeu a requisição para transferências. "Estamos à disposição do prefeito. Fomos consultados e nos dispusemos a ajudar. Não chegou ainda nenhum pedido", disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Ele informou também que há vagas nos leitos de UTI do hospital e existe a possibilidade de aumentar a capacidade. "Tivemos uma pressão muito grande na terceira e quarta semanas de março. Na sequência houve arrefecimento e voltou a ter utilização maior (dos leitos de UTI) na última semana. Estamos preparados para aumentar nossa capacidade operacional. Originalmente temos em torno de 60 leitos, com a possibilidade de quase triplicar."
A diretoria do Sírio mantém conversas com os órgãos públicos de São Paulo desde o início da pandemia. Chapchap revelou que há algumas semanas o Hospital das Clínicas teve necessidade de ampliar os leitos. "Nós contribuímos com equipamentos e equipes médicas. Já estamos participando do esforço de não deixar em situação de colapso", explicou.
De acordo com o diretor, o Sírio-Libanês forneceu bombas de infusão e ventiladores e também treinamento para outros profissionais de saúde. Equipes de enfermagem, fisioterapia e farmácia foram deslocadas para o Hospital das Clínicas para oferecer esse apoio.
<b>Gestão unificada</b>
O presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, defende a parceria entre público e privado e acredita que o Brasil e, especificamente, a cidade de São Paulo, terão de criar modelos únicos, sem se basear em ações feitas por outros países. "Temos muitas especificidades por aqui. A rede privada atende quatro, cinco vezes menos do que a rede pública. Precisa ter uma gestão destinada a fazer essa distribuição, que faça ajuste de hospital para hospital, aproveitar o máximo dos recursos disponíveis sem desorganizar o que já está sendo feito."
A Espanha tomou atitude mais drástica do que o Brasil durante a pandemia. Em março, quando o país europeu tinha 7.753 casos confirmados e 288 mortes, o Ministério da Saúde espanhol anunciou uma medida em que estatizou todos os hospitais privados. A Espanha, na segunda, passou das 25 mil mortes. O Brasil registrou, até a segunda, 7.288 óbitos.
"A intenção é reduzir a mortalidade e atender bem a todos. São medidas para contemporizar. Para levar o problema adiante, na esperança de que consigamos ajustar a demanda", declarou Amaral. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>