O fundo de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros) teve um rombo de R$ 6,7 bilhões em seus investimentos em empresas no ano passado, considerando apenas as maiores perdas. O valor representa 11% do total do patrimônio do fundo. Até o fechamento do balanço, que acontece no dia 31, esse valor poderá chegar a R$ 8 bilhões, o que elevará o déficit total da fundação. Isso porque o conselho fiscal questiona a valorização de mais de 300%, ou cerca de R$ 1,1 bilhão, contabilizada como investimento na Eldorado Celulose.
A reportagem teve acesso ao detalhamento do balanço da fundação, que está sendo apresentado por membros do conselho fiscal a beneficiários do Petros. O déficit do fundo foi de R$ 23 bilhões até o fim de 2015, sendo cerca de R$ 16 bilhões registrados somente no ano passado.
Do total de perdas, dois terços correspondem a fatores como mudanças nas premissas para os cálculos de aposentadorias futuras, contingências judiciais e questões pendentes com a própria estatal. Ao levar em conta a mudança no padrão de idade de cônjuge e filhos, o fundo estimou, por exemplo, um déficit de R$ 5 bilhões. Em relação à Petrobras, o Petros pagou a diferença de níveis salariais entre 2004 e 2006 e o conselho fiscal entende que deve cobrar R$ 2,5 bilhões da estatal.
Na linha dos investimentos, os maiores prejuízos foram registrados com Sete Brasil, Belo Monte, Vale, Invepar, BRF Foods e JBS. O maior tombo foi com a Sete Brasil, empresa criada para gerenciar as sondas do pré-sal e que está em recuperação judicial. O Petros reconheceu que perdeu a totalidade do investimento. Mesmo com as dificuldades financeiras da Sete, que já se arrastam desde o fim de 2014, o fundo fez uma capitalização de R$ 315 milhões no ano passado. Agora, teve de registrar uma perda de R$ 1,7 bilhão.
Prejuízos também foram registrados com a usina de Belo Monte, com perdas de R$ 468 milhões. A empresa dona da usina, a Norte Energia, está passando por um processo de auditoria promovido pela Eletrobrás para apurar supostos pagamentos de propina envolvendo o empreendimento. Outra investigação que pode causar mais perdas é a que está sendo feita pela Polícia Federal e envolve a Eldorado Celulose, do grupo J&F, da família Batista, que também é dona da Friboi. A Eldorado foi delatada por um ex-vice presidente da Caixa que afirma que houve pagamento de propinas para a liberação de recursos do FI-FGTS.
Mesmo antes da operação policial, o conselho fiscal já questionava a forma como a Eldorado foi contabilizada no balanço da Petros, em que se levou em conta uma antecipação da rentabilidade de uma nova fábrica que sequer foi construída. O valor da empresa de celulose no balanço passou de R$ 384 milhões, em 2014, para R$ 1,5 bilhão. Essa fábrica agora corre o risco de nem sair do papel, já que boa parte do financiamento previsto era de dinheiro público.
No mercado acionário, as maiores perdas foram com a BRF Foods, que se desvalorizou R$ 1,67 bilhão, e com a Vale. O investimento na mineradora é feito por meio de um fundo, e a queda, explicada sobretudo pelo recuo nos preços do minério, foi de R$ 873 milhões. Também foram registradas perdas com investimentos em títulos de crédito privado. Já são cerca de R$ 1 bilhão de créditos problemáticos, distribuídos em 70 investimentos, e que estão sendo questionados por um trabalho de auditoria no fundo.
O conselho fiscal deve se reunir nesta semana para dar seu parecer sobre o balanço. Já o conselho deliberativo se reúne no dia 28, para dar o aval final e publicar o balanço. A partir de então será negociada forma de se cobrir o déficit do fundo.
O Petros não quis fazer comentários, mas informou que, de janeiro a abril de 2016, os investimentos apresentaram rendimento de 7,58%, acima da meta de 5,16%. Em 2015, a meta era de 16,3%, considerando a inflação. O Petros não só não conseguiu atingir a meta como perdeu R$ 2,3 bilhões de seu patrimônio, que agora é de R$ 59,5 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.