Os auditores internos brasileiros estão mais preocupados do que profissionais de outras partes do mundo com práticas relacionadas a compliance e com a prevenção e identificação de fraudes, segundo pesquisa global realizada pela Delloite, em parceria com o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil). Esses temas têm demandado das empresas esforços relevantes para identificar e mitigar riscos desta natureza, em meio as investigações de corrupção que acontecem no País.
O levantamento identificou que para os auditores internos brasileiros, as qualificações em prevenção e detecção de fraudes (70%), análise de dados (67%) e modelos de riscos (66%) tendem a ser as mais demandadas para a área de auditoria interna nos próximos três a cinco anos. Entre os auditores globais, a pesquisa mostrou que a prevenção e detecção de fraude é considerada importante para 63% dos auditores, a análise de dados, para 69%, e os modelos de risco, para 46%.
No Brasil, há também uma indicação maior (26%), em relação à amostra global (13%), de que a proporção de serviços de assurance (conformidade) irá aumentar, o que, segundo a pesquisa, pode ser interpretado como reflexo da maior ênfase das organizações do País em temas relacionados a compliance e às investigações de fraudes e casos de corrupção, que têm demandado das empresas esforços relevantes para identificar e mitigar riscos desta natureza.
Em sua quarta edição, a pesquisa “Auditoria Interna no Brasil” identificou que, globalmente, os auditores internos estão ganhando importância dentro das empresas e buscam ter maior influência e relevância frente a executivos de conselhos, diretorias e comitês das empresas, à medida que as exigências relacionadas a compliance, regulamentação, mercado e tecnologia vão se tornando maiores. Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra que os executivos acreditam que o auditor independente pode ajudar a antecipar riscos e eventos relevantes para a companhia.
Uma parcela expressiva (85% da amostra global, e 82% da amostra do Brasil) acredita que a auditoria interna deve passar por mudanças moderadas ou significativas para viabilizar o sucesso da área nas organizações onde atuam. Ao mesmo tempo, há uma expectativa, por parte de 55% dos que responderam à pesquisa no mundo e 48% no Brasil, de que a proporção de serviços de advisory (consultoria) irá aumentar no prazo de três a cinco anos.
“Para garantir o maior alinhamento com os objetivos da alta administração, os serviços de consultoria da auditoria interna tendem a ganhar maior importância, para junto ao serviços de conformidade, viabilizar uma atuação relevante e estratégica, pautada na geração de valor”, afirmou ao Broadcast o sócio da área de Risk Advisory da Deloitte, Paulo Vitale.
“O ambiente de negócios está mudando de forma relevante, do ponto de vista tecnológico, de regulamentação, concorrência e em termos de conjuntura econômica, especialmente no Brasil. Por isso, as áreas de auditoria interna precisam estar preparadas”, acrescentou.
O executivo pontuou que outra grande mudança esperada está no uso de ferramentas de “analytics”, conceito que envolve práticas de análise avançada de dados. “Essas ferramentas facilitam mensurações e o convencimento dos executivos das conclusões e recomendações dos auditores internos”, destacou.
O estudo mostrou, entretanto, que apesar de uma forte demanda pela utilização de ferramentas de “analytics”, a capacitação para empregar essas técnicas ainda é básica para a maior parte (55%) das empresas globais participantes do estudo e para uma parcela expressiva (39%) das brasileiras.
Orçamentos estáveis
Vitale destacou ainda que, apesar de todas essas questões, a grande maioria das empresas entrevistadas prevê que seus orçamentos para a área de auditoria interna se manterão estáveis ou crescerão moderadamente, o que pode limitar ou, eventualmente, comprometer o objetivo de prevenção de riscos. “Isso pode implicar que áreas importantes deixem de ser cobertas”, afirmou. De acordo com a pesquisa, 80% dos que responderam no Brasil e 90% dos globais estimam gastar o mesmo ou um pouco mais com auditoria interna.
A pesquisa contou com participação de empresas dos setores de bens de consumo, indústria e serviços financeiros. No âmbito global, 48% das empresas participantes faturam até US$ 1 bilhão. Entre os que responderam do Brasil, 56% das organizações assinalaram faturar até este valor. Em ambas as amostras, uma parcela significativa também se concentra na faixa de faturamento de US$ 1 bilhão a US$ 5 bilhões.