Um ex-miliciano filipino, Edgar Matobato testemunhou em uma audiência do Senado televisionada nesta quinta-feira, durante a qual afirmou que o presidente Rodrigo Duterte ordenou que ele e outros membros de um suposto esquadrão da morte matassem centenas de criminosos, usuários de drogas e adversários políticos no período em que Duterte era prefeito.
Matobato, de 57 anos, é o primeiro membro do chamado Esquadrão da Morte Davao a testemunhar abertamente. Ele descreveu uma série de homicídios, entre eles um no qual a vítima foi lançada aos crocodilos. Os crimes teriam sido cometidos enquanto os membros da quadrilha faziam parte da folha de pagamentos da prefeitura de Davao.
A testemunha falou no comitê do Senado liderado por Leila de Lima, que realiza audiências para investigar as mortes extrajudiciais como parte da guerra declarada de Duterte contra as drogas. A polícia disse que 3.140 pessoas foram mortas até agora pela polícia e por outras forças, durante aquela campanha. Outras 16 mil pessoas foram presas.
“Nós fomos encarregados de matar criminosos como narcotraficantes, estupradores e ladrões. Nós matamos esse tipos todo dia”, relatou Matobato em Tagalog nesta quinta-feira. Ele disse que havia sido recrutado em 1988 para se unir a uma equipe de sete pessoas inicialmente chamada “Lambada Boys” e que cinco anos depois o grupo se expandiu para incluir policiais e ex-insurgentes. Ele não disse quão grande o grupo se tornou, mas confirmou que está envolvido na morte de cerca de mil pessoas, das quais 50 ele admitiu ter matado pessoalmente.
Matobato disse que trabalhou para Duterte durante 24 anos, recebendo pagamento regular da prefeitura. Senadores revisam a folha de pagamentos de Davao para determinar se Matobato de fato recebia da administração pública.
Duterte ainda não comentou o depoimento, mas já negou anteriormente qualquer envolvimento com o Esquadrão da Morte de Davao. Em um comentário na televisão na cidade de Davao, Duterte chegou a dizer: “Eu sou o esquadrão da morte? Sim, isso é verdade”, porém depois afirmou que apenas buscava desafiar os críticos para que o levassem à justiça.
Matobato também disse que participou no sequestro e no homicídio em 2010 de partidários do rival político do presidente, Prospero Nograles.
Porta-voz do presidente, Martin Andanar disse a repórteres nesta quinta-feira não acreditar que Duterte “seja capaz de dar essas ordens”. Andanar também afirmou que a Comissão de Direitos Humanos não comprovou a existência do Esquadrão da Morte Davao. O esquadrão foi identificado em 2009, em uma investigação da organização não governamental Human Rights Watch (HRW).
De Lima disse a repórteres que Duterte tem imunidade presidencial e pode não ser processado até que deixe o posto em junho de 2022. Um senador presente na audiência, Panfilo Lacson, questionou a credibilidade de Matobato.
Os aliados políticos de Duterte têm uma ampla maioria no Congresso que poderia facilmente bloquear eventuais esforços de retirá-lo da presidência. Fonte: Dow Jones Newswires.