Estadão

Presidente do BC nega que Copom tenha mudado o horizonte da meta de inflação

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, negou nesta quinta-feira, 18, que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha mudado o horizonte da meta de inflação que continua sendo o ano calendário. Ele voltou a argumentar que a comunicação sobre a inflação no horizonte relevante até o 1º trimestre de 2024 teve o objetivo de comunicar mais claramente os efeitos das medidas do governo.

"A ênfase sobre 1º trimestre de 2024 na última reunião do Copom não significa que mudamos meta de inflação. A gente está falando de horizonte relevante, que todo Relatório Trimestral de Inflação (RTI) diz que pode ser mudado. Essa mudança na comunicação não é permanente", afirmou o presidente do BC, em painel no Macro Day 2022, organizado pelo BTG Pactual.

Campos Neto reconheceu que, em um ambiente de tantas incertezas difíceis de serem calibradas, há sempre um desafio de comunicação para o BC. "Havia entendimento do governo de que medidas era boas para BC, por inflação caindo. Mas as medidas reduzem inflação fora do horizonte relevante e aumentam dentro do horizonte. É como se você estivesse preparando o avião para pousar e alguém colocasse uma montanha na frente, é preciso fazer uma manobra na comunicação", completou.

O presidente do BC argumentou ainda que o cálculo do impacto cumulativo da taxa de juros mais alto tem bastante incerteza. "A estratégia para levar a inflação ao redor da meta é simétrica, para cima e para baixo. A projeção para 2024 é consistente com estratégia", respondeu. "Tem bastante incerteza e há sintonia fina em relação a projeções", completou.

<b>Ansiedade fiscal</b>

Campos Neto repetiu que há uma ansiedade do mercado sobre o panorama fiscal de 2023, sobretudo com a provável continuidade de pagamentos maiores de benefícios como o Auxílio Brasil. "Entendemos que parte das medidas anunciadas como temporárias continuarão em 2023. Vai haver um debate sobre como esse medidas serão financiadas. O BC irá olhar e vamos incluir isso nos nossos modelos", afirmou.

Ainda assim, voltou a elogiar os resultados fiscais na margem e repetiu que parte da melhora não se deve apenas à inflação. "O BC não gosta muito de falar de fiscal, gera muito ruído", acrescentou.

O presidente do BC ainda repetiu que qualquer pessoa que sente na cadeira presidencial em 2023 terá um desafio grande de olhar o social e ao mesmo tempo ter responsabilidade fiscal. "É justo dizer que é o fiscal é o grande desafio para 2023. Há um debate grande sobre como isso vai ser financiado. Há uma incerteza grande. O fiscal sempre está em perigo no Brasil. Quando resgato material do passado, parece que há um flashback sempre, sempre alguém dizendo que as medidas do governo são populistas. Há uma preocupação sim e trabalhamos com a sustentabilidade da dívida. Vai ser muito desafiador equilibrar social e dívida", alertou.

Campos Neto disse também que a mudança estrutural no mercado de trabalho envolve reformas e questão comportamental das empresas.

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