Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde destacou nesta segunda-feira a "incerteza" na trajetória da inflação na zona do euro, com riscos de alta. Ela disse que a inflação "deve seguir elevada, no curto prazo" e por "mais tempo que o esperado" anteriormente. Durante discurso no Comitê de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento, a autoridade destacou que isso é puxado principalmente pelos preços de energia, mas também mencionou que as altas "tornam-se mais disseminadas".
Lagarde disse que os riscos à inflação estão voltados para cima, "especialmente no curto prazo", porém afirmou que os indicadores de inflação no mais longo prazo são "consistentes com nossa expectativa". Segundo a presidente do BCE, há atenção dos dirigentes sobre como os preços de energia se transmitem pela economia.
Ela notou que, por um lado, essa alta pode provocar mais inflação, disseminando-se pelos produtos, mas também pode levar a um crescimento menor, consequentemente contendo o avanço dos preços. Para o BCE, a inflação deve seguir mais alta por mais tempo que o antes esperado, "mas recuar ao longo deste ano".
Ela também notou que o crescimento na zona do euro perdeu fôlego, sobretudo por causa da rápida disseminação da variante Ômicron da covid-19 e das medidas para conter o vírus. A atual onda da pandemia deve continuar a provocar um impacto no crescimento, no início deste ano. Dois outros fatores citados por ela como freios à atividade no curto prazo são os gargalos na oferta e os altos custos de energia.
Segundo a autoridade, o impacto econômico da onda atual da pandemia parece ser menor que nas anteriores. Os gargalos da oferta devem persistir por "algum tempo, mas há sinais de que eles podem começar a diminuir", apontou ela, o que permitirá uma retomada mais forte mais adiante em 2022.
Os riscos à perspectiva econômica estão "em geral equilibrados, no curto prazo", de acordo com Lagarde. As incertezas relacionadas à pandemia "diminuíram um pouco", mas aumentaram as tensões geopolíticas e os custos elevados de energia "poderiam provocar um freio mais forte que o esperado no consumo e no investimento", alertou. Ela ainda disse que não vê sinais de aquecimento excessivo na demanda, na zona do euro.
As condições financeiras para a economia "têm permanecido favoráveis", disse Lagarde.
Os juros no mercado têm aumentado desde dezembro, mas os custos de financiamento dos bancos seguem por ora contidos, avaliou. Em seu discurso, ela também disse que os juros não serão elevados antes do fim das compras líquidas de bônus do BCE e que "qualquer ajuste na nossa política será gradual".