A promotoria do Tribunal Especial para o Kosovo, em Haia, apresentou nesta quarta-feira, 24, acusação contra o presidente Hashim Thaçi por crimes de guerra e contra a humanidade por suposta tortura, perseguição, desaparecimentos forçados entre os anos de 1998 e 2000, além das mortes de 100 pessoas.
Um juiz dos tribunais Especializados do Kosovo deve rever a acusação relativa ao passado de Thaçi como líder militar e decidir se mantém as acusações, afirmou o Tribunal em um comunicado.
O Ministério Público apresentou as mesmas acusações contra o líder do Partido Democrático do Kosovo, Kadri Veseli, e outros líderes não identificados do país.
O processo sumário "é o resultado de uma longa investigação e reflete a determinação do Ministério Público de que pode provar todas as acusações para além de qualquer dúvida razoável", disse o gabinete liderado pelo procurador-geral, Jack Smith.
As vítimas, segundo a acusação, são centenas e incluem albaneses do Kosovo, sérvios, ciganos e membros de outros grupos étnicos e opositores políticos.
"O promotor julgou necessário emitir este comunicado público devido a esforços repetidos de Hashim Thaçi e Kadri Veseli em obstruir e prejudicar o trabalho dos Tribunais de Justiça Especializados do Kosovo", afirmou o comunicado.
Este Tribunal tem o mandato de julgar os responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade supostamente cometidos entre 1998 e 2000 pelo Exército de Libertação do Kosovo.
Segundo o Ministério Público, os acusados "realizaram uma campanha secreta para revogar a lei que criou o tribunal" com o objetivo de "garantir que não enfrentariam a Justiça".
Thaçi e Veseli "colocaram seus interesses pessoais à frente das vítimas de seus crimes, do Estado de Direito e de todo o povo do Kosovo".
Os Tribunais de Justiça Especializados do Kosovo seguem a lei do Kosovo, mas são constituídas por juízes internacionais e estão sediadas em Haia, na Holanda, devido à alta sensibilidade da questão em Pristina, além de oferecer maior proteção às testemunhas que deponham nos casos.
Criado em 2015, o tribunal especial do Kosovo é acusado de investigar crimes cometidos pela guerrilha da independência do Kosovo na Albânia (UCK), principalmente contra sérvios, ciganos e opositores da guerrilha albanesa durante e após o conflito de 1998-99.
O advogado do tribunal preparou as primeiras acusações nesse caso em fevereiro, sem comunicar a identidade dos suspeitos.
Thaçi, que participaria de uma reunião na Casa Branca no sábado, 20, retorna ao seu país depois de "interromper" sua viagem aos Estados Unidos, anunciou seu gabinete, sem especificar onde ele estava.
Segundo a imprensa do Kosovo, o presidente estava a bordo de um avião que viajava a Washington "quando foi feito o anúncio" da alegação.
<b>"Campanha secreta"</b>
No último conflito na ex-Iugoslávia, a guerra do Kosovo entre as forças sérvias e a guerrilha albanesa da independência do Kosovo causou mais de 13 mil mortes (mais de 11 mil kosovares albaneses, 2 mil sérvios e algumas ROMs).
Terminou quando uma campanha de bombardeio ocidental forçou as forças sérvias a se retirarem. Vinte anos depois, a Sérvia não reconhece a independência de sua antiga província.
Questionado pela imprensa em abril sobre uma possível demissão de seu cargo de presidente em caso de acusação pelo tribunal especial do Kosovo, Thaçi respondeu: "Por que devo renunciar?"
"Vou responder positivamente (ao convite para comparecer em tribunal), mas não vou renunciar", respondeu ele.
Vários altos funcionários do Kosovo já foram convocados pelo tribunal no passado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)