Presidente do TJ-SP critica quem prega o desrespeito às decisões judiciais

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Geraldo Francisco Pinheiro Franco, criticou agentes políticos que pregam abertamente o desrespeito às decisões judiciais. A mensagem veio após ataques recentes aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Poder Judiciário, classificados por ele como injustificáveis.

Em nota divulgada no domingo, 31, o magistrado repudiou o confronto institucional e destacou que a solução de eventuais divergências entre as autoridades deve ser buscada através da Constituição.

"Se o exemplo fornecido por agentes políticos envolve o desrespeito às instituições democráticas, o Poder Judiciário e, em especial, o Supremo Tribunal Federal, o reflexo negativo para a democracia será imensurável", destacou Pinheiro Franco.

O presidente do Tribunal de Justiça paulista aproveitou para externar solidariedade aos ministros do STF pelas ameaças que vêm sendo dirigidas à Corte nas últimas semanas e criticar agentes políticos que endossam esses ataques.

"Mensagens que pregam abertamente o desrespeito a decisões judiciais, como se fosse possível dentro de nossa ordem constitucional a desobediência ao Poder Judiciário, ensejam dúvidas quanto ao compromisso de alguns agentes políticos com a democracia. As reiterações desses comportamentos provocam fundadas suspeitas a respeito de ação dinamizada ao caos institucional, indicando-se a tentativa de justificar o injustificável: a ruptura institucional", afirmou.

Para Pinheiro Franco, alguns perderam o bom senso e insistem em uma polarização prejudicial aos brasileiros."Impressiona que o Brasil, a sofrer as terríveis consequências ligadas à atual pandemia, tenha ainda que passar a todos a ideia de instabilidade institucional", disparou. O juiz pediu ainda união no combate às crises de saúde pública e econômica decorrentes da covid-19.

Tensão entre os poderes. A nota foi tornada pública após uma crescente de ataques dirigidos por apoiadores bolsonaristas e membros do próprio governo ao Supremo Tribunal Federal.

Os primeiros sinais recentes de insatisfação do Planalto e de seus aliados contra a Corte surgiram após a decisão do ministro Alexandre de Moraes que deu a Estados e municípios autonomia para adotar medidas de isolamento social, independente de orientação federal contrária.

A abertura do inquérito para apurar se houve tentativa de interferência política de Jair Bolsonaro na Polícia Federal aumentou a tensão entre os poderes. A investigação implicou na divulgação, a revelia do governo, da íntegra do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril – que atingiu ministros do alto escalão do Planalto, incluindo um dos principais remanescentes da ala ideológica bolsonarista, Abraham Weintraub, que deve responder por declarações contra os ministros da Corte.

O pedido de devassa no celular do presidente, encaminhado pelo decano Celso de Mello para análise da Procuradoria-Geral da República, como manda o rito do STF, é outro componente que inflamou a militância pró-governo. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, chegou a dizer que se o pedido for aceito poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, disse ao Estadão estar extremamente preocupado com a tensão entre os Poderes e afirmou que apreender o celular de Bolsonaro seria uma afronta.

O ápice para os ataques, no entanto, veio após apreensões de celulares, computadores e documentos de apoiadores bolsonaristas investigados no inquérito das fake news.

No mesmo dia, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho mais novo do presidente, chegou a dizer que participa de reuniões em que se discute quando acontecerá o momento de ruptura no Brasil. Na sequência, uma série de manifestações, virtuais e físicas, passaram a falar em ditadura do STF e chegam a pedir intervenção das Forças Armadas para que o presidente aposente compulsoriamente os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, o que é inconstitucional.

<b>LEIA A ÍNTEGRA DO ALERTA DO DESEMBARGADOR GERALDO PINHEIRO FRANCO</b>

Os sérios ataques dirigidos ao Poder Judiciário e, em particular, aos Ministros do Supremo Tribunal Federal demandam uma repulsa igualmente séria.

O confronto institucional não interessa a ninguém, não interessa ao Brasil. E nunca partirá do Judiciário ou da Corte Suprema. A Constituição Federal de 1988 possui diversos mecanismos jurídicos aptos à solução de eventuais divergências entre as autoridades constituídas, o que torna incompreensíveis e injustificáveis manifestações que atacam integrantes do Poder Judiciário em razão do regular exercício de suas atividades. E mais graves serão os ataques se provenientes de autoridades públicas que devem estrito respeito ao princípio da separação dos poderes.

A solução para os conflitos possui contornos de simplicidade: o oferecimento do adequado meio jurídico de impugnação a uma decisão judicial.

Importante acrescentar que as aleivosias e as ameaças dirigidas a ministros do Supremo Tribunal Federal causam intranquilidade à nação. Mensagens que pregam abertamente o desrespeito a decisões judiciais, como se fosse possível dentro de nossa ordem constitucional a desobediência ao Poder Judiciário, ensejam dúvidas quanto ao compromisso de alguns agentes políticos com a democracia. As reiterações desses comportamentos provocam fundadas suspeitas a respeito de ação dinamizada ao caos institucional, indicando-se a tentativa de justificar o injustificável: a ruptura institucional. Já foi dito em outra ocasião pelo Ministro Cezar Peluso: "só uma nação suicida ingressaria voluntariamente em um processo de degradação do Poder Judiciário".

Se o exemplo fornecido por agentes políticos envolve o desrespeito às instituições democráticas, o Poder Judiciário e, em especial, o Supremo Tribunal Federal, o reflexo negativo para a democracia será imensurável.

Em algum momento de nossa história recente alguns perderam o bom senso. A polarização candente só nos trouxe danos, só causou dor aos brasileiros. E assim não progrediremos como nação que se busca justa.

Impressiona que o Brasil, a sofrer as terríveis consequências ligadas à atual pandemia, tenha ainda que passar a todos a ideia de instabilidade institucional. O ataque à democracia, por evidente, nunca é oportuno. As posições inequivocamente contrárias ao Estado Democrático de Direito violam regras constitucionais. Precisamos de união no combate às crises de saúde pública e econômica decorrentes do perigoso vírus, e não crises políticas sucessivas que dividem ainda mais a já polarizada sociedade brasileira.

Refutando os ataques ao Poder Judiciário Nacional e ao Pretório Excelso, o Tribunal de Justiça de São Paulo, externa sua solidariedade e respeito ao Supremo Tribunal Federal e aos Eminentes Ministros daquela Corte.

Geraldo Francisco Pinheiro Franco

Presidente do Tribunal de Justiça

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