O ultraconservador Ebrahim Raisi deu sua primeira entrevista como presidente eleito do Irã nesta segunda-feira, 21. A jornalistas, ele disse que apoia as negociações para retomar o acordo nuclear de 2015, mas rejeita categoricamente qualquer possibilidade de encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden, mesmo que Washington suspenda todas as sanções contra o país.
O clérigo linha-dura afirmou que sua prioridade em termos de política externa é melhorar as relações do Irã com seus vizinhos árabes do Golfo Pérsico, embora o discurso em tom impositivo não tenha deixado muita esperança de entendimento. Ontem, por exemplo, Raisi pediu à Arábia Saudita, histórico rival regional dos iranianos, que pare imediatamente sua intervenção no Iêmen.
Raisi, de 60 anos, um crítico contundente do Ocidente, assumirá o lugar do pragmático Hassan Rohani no dia 3 de agosto. Até lá, o Irã ainda tenta salvar o acordo nuclear e se livrar das sanções econômicas dos EUA, que prejudicaram a economia iraniana. "Apoiamos as negociações que garantem nossos interesses nacionais. A América deve retornar imediatamente ao acordo e cumprir suas obrigações", disse Raisi.
As negociações nucleares estão em andamento em Viena, na Áustria, desde abril. Iranianos e americanos buscam uma maneira de ressuscitar o pacto que os EUA abandonaram em 2018, por decisão do então presidente Donald Trump, que restabeleceu as sanções ao país.
Diante da retirada dos EUA, o Irã começou a violar os termos do acordo – especialmente com relação ao enriquecimento de urânio -, que haviam sido projetados para minimizar o risco de o país desenvolver armas nucleares, uma ambição que o governo iraniano nega.
<b>Prioridades</b>
Ontem, no entanto, Raisi disse que a política externa do Irã não se limitará ao acordo nuclear e exigiu que "todas as sanções dos EUA sejam levantadas". Nos bastidores, porém, diplomatas iranianos e ocidentais garantem que é improvável que a eleição de Raisi altere as negociações para reativar o acordo nuclear.
De qualquer forma, a escolha de um ultraconservador para comandar o Irã também não ajuda a melhorar as relações com os EUA. Questionado ontem se ele se encontraria com o presidente americano, Joe Biden, caso as sanções fossem suspensas, Raisi foi seco: "Não".
A Casa Branca minimizou as declarações de Raisi, dizendo que nenhuma reunião foi planejada, e lembrando que, na verdade, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, é quem realmente toma as decisões em Teerã. "Atualmente, não temos nenhuma relação diplomática com o Irã ou nenhum plano de nos reunirmos em nível de liderança", disse a porta-voz de Biden, Jen Psaki. "Nossa visão é que o líder supremo é quem toma as decisões."
Raisi é um dos líderes iranianos que estão sob sanções americanas. Os EUA e grupos de defesa dos direitos humanos dizem ele está envolvido no assassinato de milhares de presos políticos em 1988. O presidente eleito, que fez uma longa carreira no Judiciário, questionou as acusações.
"Se um juiz ou um promotor defendeu a segurança do povo, ele deve ser elogiado. Estou orgulhoso de ter defendido os direitos humanos em todas as posições que ocupei até agora."
A Casa Branca garante que o assunto será abordado nas negociações nucleares em Viena. Os países árabes do Golfo dizem que não há como separar o programa de mísseis do Irã e o comportamento "desestabilizador" no Oriente Médio, onde iranianos e sauditas travaram guerras indiretas em países como Iêmen e Iraque.
<b>Jogo duro</b>
Ontem, Raisi repetiu as palavras de Khamenei, afirmando que as políticas regionais e o programa de mísseis balísticos do Irã eram "inegociáveis". "Eles (os americanos) não cumpriram o acordo anterior. Como querem entrar em novas discussões?", afirmou o futuro presidente.
Eleito no primeiro turno com quase 62% dos votos, Raisi elogiou ontem a "presença massiva" da população iraniana nas seções eleitorais, "apesar da guerra psicológica travada pelos inimigos do Irã". A votação, no entanto, foi marcada por uma abstenção recorde – estima-se que o comparecimento tenha sido de 48%, o mais baixo da história da república.
Apesar de ser a cara do Executivo iraniano, o presidente tem prerrogativas limitadas, já que a essência do poder está centrada nas mãos de Khamenei, que tem a última palavra em questões centrais, como política externa e os programas de míssil e nuclear. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>