Depois de uma campanha interna marcada por denúncias e trocas de acusações, as prévias do PSDB para o governo municipal, que acontecem neste domingo na capital, marcam o fim de uma trégua interna entre os dois principais polos de poder do partido em São Paulo e vão impactar a correlação nacional de forças dos tucanos também no âmbito nacional.
O empresário João Doria, mesmo sem tradição de militância orgânica, representa o projeto de poder do governador Geraldo Alckmin, que tenta se viabilizar como candidato tucano à Presidência em 2018.
O vereador Andrea Matarazzo é aliado do senador José Serra, que não desistiu de chegar ao Palácio do Planalto depois de duas tentativas frustradas. Desse grupo serrista, também fazem parte o senador Aloysio Nunes e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sem padrinhos entre os cardeais do partido, o deputado federal Ricardo Tripoli conta com a simpatia de alguns aliados do senador mineiro Aécio Neves em São Paulo.
O dividendos de uma vitória de Tripoli serão depositados na conta de Aécio; os de Doria, na de Alckmin; e os de Matarazzo, na de Serra. Por isso, as prévias deste domingo, que pareciam ser uma solução para a ausência de um nome natural do PSDB em São Paulo, se transformaram em mais uma luta fratricida.
O último grande racha do partido em São Paulo ocorreu nas eleições municipais de 2008, quando Serra, então governador, não se engajou na campanha de Alckmin à Prefeitura. Ele e seu grupo optaram por uma “neutralidade” que, na prática, beneficiou Gilberto Kassab, então aliado incondicional do hoje senador.
No ano seguinte, os projetos pessoais dos dois tucanos paulistas se alinharam quando Alckmin assumiu a Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo. Não havia outro plano de voo possível para o PSDB do Estado: lançar a candidatura de Serra ao Palácio do Planalto, frear as pretensões do governador Aécio e garantir uma sucessão sem riscos no Palácio dos Bandeirantes com Alckmin.
Deu certo, e os grupos de Serra e Alckmin conviveram sob um acordo tácito de paz que culminou com a reeleição do governador em 2014 e a eleição de Serra para o Senado.
Atualmente, porém, em caráter reservado, tucanos dos dois lados reconhecem que o cenário agora é bem diferente e a cisão das prévias aponta para um caminho sem volta. “Respeitando as posições do Aécio e do Serra, o Geraldo Alckmin é o meu candidato à Presidência em 2018. É possível e aceitável que essa minha posição pessoal tenha gerado algumas reações”, diz João Doria.
O mineiro
Um tucano de alta patente na direção nacional do PSDB observa que o senador Aécio Neves conseguiu, na eleição presidencial de 2014, algo impensável para um político mineiro em outros tempos: construir bases sólidas em São Paulo. Esse prestígio ficou evidente na disputa pela liderança tucana na Câmara.
Aliado de Aécio, Antônio Imbassahy (BA) venceu Jutahy Magalhães (BA), que é aliado de Serra, com votos de parlamentares paulistas.
O fortalecimento de Aécio em campo “inimigo” preocupa os grupos de Serra e de Alckmin e tornam a vitória de seus apadrinhados nas prévias essencial para que eles possam demarcar território em relação ao avanço do mineiro e seus correligionários.
Alckmin reclamou a aliados ter se sentido emparedado por Serra e Matarazzo quando o vereador lançou sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo sem o consentimento do Bandeirantes, ainda no ano passado.
O governador passou a buscar um nome capaz de se contrapor ao grupo de Serra. Os primeiros cotados para a missão, os secretários Alexandre de Moraes e Floriano Pesaro, não conseguiram se viabilizar.
Doria foi rápido ao aproveitar o aceno do governador e se mostrou disposto a bater de frente com Serra e FHC. O empresário se lançou na disputa de maneira impetuosa e, na reta final, conquistou o apoio explícito de Alckmin: os dois votarão juntos hoje.
Se Doria for derrotado, aliados de Alckmin avaliam que aumentarão as chances de o governador trocar o PSDB pelo PSB. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.