Em meio a operações de grande impacto durante o segundo turno das eleições 2022, a Polícia Rodoviária Federal fiscalizou, entre os dias 28 e 30 de outubro, 2.185 ônibus em estradas do Nordeste – mais que o dobro das ações de mesmo teor registradas no centro-oeste (893), quatro vezes mais que o número de blitz efetuadas no Sudeste e sete vezes mais do que no Norte do País.
Os dados constam de relatório divulgado pelo Ministério da Justiça nesta quinta-feira, 20. O ministro Flávio Dino classificou a diferença na atuação da PRF entre regiões como um desvio de padrão em relação à atuação rotineira da corporação.
O diretor-executivo da PRF Antônio Jorge Azevedo Barbosa diz que houve mudança estratégica da atuação da PRF entre o primeiro e o segundo turnos . "Ficou claro que houve um interesse estratégico diferente do modus operandi da PRF em outras situações. Algo que não era costumeiro", afirmou, durante coletiva no Palácio da Justiça. Segundo ele, a operação foi desproporcional no Nordeste, em relação às outras regiões .
Durante aquele período, a PRF realizou 4.591 fiscalizações em todo o Brasil. O número de operações na região Nordeste corresponde a 47% do total de inspeções em coletivos que transportavam eleitores para votação.
Somente no dia do segundo turno, 30 de outubro, que sagrou como vencedor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram fiscalizados 324 ônibus na malha viária nordestina.
O número de veículos de transporte coletivo retidos no Nordeste é ainda mais discrepante do que os registrados em outras regiões. Foram 48 ônibus barrados pela PRF. Na região Sudeste, 9. No Centro-Oeste, 8. Na região Norte, 5. Na região Sul, 4.
As operações da PRF envolvendo as fiscalizações no Nordeste no segundo turno colocaram a corporação no centro de suspeitas. Ela teria agido para favorecer a candidatura do então presidente Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição.
Logo nas primeiras horas de votação no dia 30 de outubro, eleitores denunciaram, nas redes sociais, abordagens feitas pela corporação, com foco na malha viária nordestina, a pretexto de combater o transporte irregular de eleitores.
As denúncias levaram o presidente do Tribunal Superior Eleitoral Alexandre de Moraes a determinar que o então chefe da PRF Silvinei Vasques explicasse a razão das abordagens e proibir operações da corporação relacionadas ao transporte público, gratuito ou não, disponibilizado aos eleitores .
Horas antes, o dia decisivo havia amanhecido com uma foto publicada no Instagram por Silvinei, no qual ele pedia a seus seguidores, abertamente Vote 22 , número de Bolsonaro nas urnas. O post foi posteriormente apagado.
A publicação e a atuação da PRF no dia do segundo turno, somadas a outras condutas do então chefe da PRF, colocaram Silvinei na mira de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sob suspeita de prevaricação, violência política e omissão.
Ele também é réu em uma ação de improbidade, que lhe imputa verdadeira propaganda político-partidária e promoção pessoal de autoridade com fins eleitorais .
O ex-diretor-geral foi primeiro afastado do cargo e depois se aposentou aos 47 anos de idade com proventos integrais que passam de R$ 16 mil.
O relatório divulgado pelo Ministério da Justiça contém apenas números relacionados ao mutirão da PRF nas estradas no segundo turno das eleições.
O documento não cita nomes, mas aliados do presidente Lula avaliam que os dados nele contidos reforçam as suspeitas de que a PRF agiu fortemente para dificultar o trânsito e o voto de petistas.