O disco de estreia do violoncelista Sheku Kanneh-Mason revela um artista de forte personalidade. O nome do álbum, lançado no ano passado pelo selo Decca, é Inspiration, e ele próprio explica o conceito: “Tanto na hora de escolher as peças para o casamento real quanto no momento em que decidi o que gravar no CD, optei por peças que de alguma forma me inspiraram”, disse ele para o site Billboard, contando ainda que o convite para a cerimônia partiu pessoalmente da noiva.
Seu registro do Concerto nº 1 para Violoncelo de Shostakovich impressiona não apenas pelo virtuosismo com que enfrenta passagens realmente difíceis, mas pela delicadeza dos momentos de maior lirismo, pelo controle expressivo que tem do violoncelo e pela musicalidade madura. “A peça é a última batalha de Shostakovich contra o regime de Stalin na Rússia e há muita raiva, desespero, mas também solidão, além de toques refinados de humor”, disse ele ao New Statesman no ano passado, quando o CD foi lançado.
Mas, se um disco conta uma história, ela versa acima de tudo sobre um artista que parece celebrar a diversidade e o diálogo como elementos do fazer musical. É por isso que convivem no álbum uma peça de referência do repertório tradicional como o concerto de Shostakovich; um hino do reggae, No, Woman no Cry, de Bob Marley (em arranjo para violoncelo solo feito pelo próprio Sheku); ou Hallelujah, de Leonard Cohen (em arranjo para grupo de cordas que, em alguns momentos, justiça seja feita, esbarra no convencional e melodramático).
É uma mistura que se justifica na mente e sensibilidade do intérprete – e que, por meio de um modo de tocar envolvente, convence também o ouvinte.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.