Na entrada da sede da Uefa, em Nyon, na Suíça, um troféu ganha um tratamento diferenciado e um cuidado especial daqueles que, periodicamente, fazem sua limpeza com luvas especiais. Trata-se da “orelhuda”, o nome carinhoso que se dá à taça da Liga dos Campeões.
Nesta terça-feira, a nova edição do torneio começa com 32 times, vindos de 16 países. Serão 125 jogos disputados até a grande final, em Madri. O time de Florentino Pérez entrará em campo sem Cristiano Ronaldo, mas com o objetivo de conseguir seu quarto título consecutivo. A competição também estabeleceu uma corrida sem precedentes entre clubes por um volume inédito de dinheiro no futebol.
Neste ano, a Uefa anunciou que passará a distribuir US$ 2,2 bilhões (R$ 9,07 bilhões) aos participantes, mais de cinco vezes o prêmio que a Fifa dá para as seleções em uma Copa do Mundo (US$ 400 milhões, cerca de R$ 1,65 bilhão), por exemplo, e 22 vezes mais do que a Conmebol distribuirá em 2018 como premiação para a Libertadores, com cerca de US$ 103 milhões (R$ 425 milhões).
Em apenas um ano, a direção da Uefa decidiu aumentar a premiação em quase 40%, garantindo maior solidez financeira aos clubes que, por sua vez, garantem ao continente o monopólio dos craques mundiais. Na última Copa, 77% dos atletas que foram aos campos russos atuavam em equipes europeias.
“Nossa renda não fica na Uefa. Ela vai para os clubes”, declarou à reportagem do Estado o presidente da entidade, Alexander Ceferin. Em sua avaliação, o fato de que grande parte da receita volta aos times, e não a salários de dirigentes, garante hoje a predominância do futebol europeu.
Para a temporada 2018/2019, a receita da Uefa com a Liga dos Campeões, Liga Europa e Super Copa será de 3,2 bilhões de euros (R$ 15,4 bilhões). Apenas 6,5% da receita do torneio fica nas mãos dos dirigentes da Uefa. Os números também revelam que o torneio foi tão global quanto nesta edição. A Uefa conta com 172 acordos de transmissão dos jogos, com um total de 149 emissoras de TV, operadoras de Internet e celular. Juntos, eles garantem uma receita de 2,3 bilhões (R$ 11,11 bilhões) e a transmissão ao vivo para 83 países.
Apesar de contar com todos os mais de cem jogos praticamente lotados, a bilheteria da Liga dos Campeões se transformou em algo secundário. Hoje, as partidas rendem “apenas” 55,6 milhões de euros (R$ 268,6 milhões) em ingressos.
ELITE – A grande diferença em 2018 é que a Uefa, sem qualquer constrangimento, passou a privilegiar os grandes clubes europeus. Cerca de 30% da renda foi colocada de lado em um fundo que hoje soma US$ 683 milhões (R$ 2,81 bilhões). Pelo novo sistema, equipes com melhor desempenho nos últimos dez anos da Liga dos Campeões têm direito a uma renda maior, que sairá justamente desse fundo. Na prática, o Real Madrid entra em campo já sabendo que vai levar para casa US$ 35 milhões (R$ 144 milhões), mesmo se não passar da fase de grupos.
Se a Uefa defende a mudança alegando que está privilegiando os resultados em campo, os clubes menores alertam que isso poderá perpetuar alguns poucos privilegiados no topo. Entre 1993 e 1999, o torneio teve sete vencedores diferentes. Nos últimos sete anos, foram apenas quatro campeões e de apenas três países: Alemanha, Espanha e Inglaterra.
O sonho de todos é chegar à decisão, quando o vencedor sairá com um acúmulo de pelo menos 45 milhões de euros, ou R$ 217 milhões (sem contar sua participação na renda de TV), acima do que a França levou na Copa da Rússia ao conquistar o troféu mais cobiçado do mundo e um cheque de US$ 38 milhões (R$ 156,7 milhões) – COLABOROU RENAN FERNANDES.