O diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Nelson Barbosa, disse nesta terça-feira, 23, que ainda não está claro o modelo que vai suceder o neoliberalismo, mas que vários países ainda estão buscando uma solução para substituí-lo. Para ele, esse caminho passa pelo fortalecimento de bancos públicos, do Estado, e de taxações progressivas, com coordenação internacional.
"Nesse momento sempre aparecem soluções mágicas, de achar que somente com gestão e combate à corrupção, ou que é só imprimir moedas resolve", disse Barbosa durante o debate sobre o papel do Estado no futuro, que está sendo realizada na sede do BNDES no Rio.
Ele destacou que várias democracias ocidentais enfrentam hoje uma crise neoliberal, em um momento em que a demanda sobre o Estado é cada vez maior. "Existem problemas globais que exigem coordenação internacional", observou, destacando temas como as transições climática e demográfica, além da taxação de grandes fortunas.
"No Brasil a crise demográfica não aparece tanto porque a gente não recebe tanto imigrante, mas no resto do mundo é uma crise importante", afirmou. "A reinvenção do Estado é um debate no Brasil e no mundo", acrescentou.
Barbosa ressaltou que a pandemia teve como um dos impactos o endividamento dos países, e agora é preciso reequilibrar o orçamento. "Não é só um problema técnico, é político. É uma inconsistência do que as pessoas desejam do estado e os que estão dispostas a pagar pelo estado isso ocorre em todos os países", explicou.
Segundo ele, diante da restrição dos orçamentos públicos, é preciso usar cada vez mais instrumentos financeiros, e os bancos públicos têm um papel importante nesse momento. "Os bancos públicos podem emprestar a taxas mais baixas do que o mercado, direcionando esses recursos para áreas prioritárias, como vem fazendo o BNDES, com uma demanda cada vez mais crescente", informou.
Ele citou o Fundo Clima, que recentemente foi fortalecido com uma emissão do Tesouro Nacional, de US$ 2 bilhões, e já conta com US$ 20 bilhões para empréstimos, à taxa de 6,15% de spread, que para o Brasil é considerada uma taxa baixa, disse Barbosa. Segundo ele, já foram registradas demandas de R$ 32 bilhões até 2026.
"Esses instrumentos financeiros tendem a ganhar importância, com o fortalecimento dos bancos públicos e o papel do Estado", afirmou, destacando que uma agenda de taxação progressiva mundial de pessoas e corporações é necessária para recompor as receitas dos países.
Para ele, uma taxação nessa escala exige coordenação internacional, já que qualquer país que tente fazer isso sozinho, provavelmente vai sofrer evasão de capital.
"Por isso é muito importante que a taxação progressiva mundial seja um tema de coordenação dentro do G20, é o que o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad tem enfatizado, e vai colocar esta semana na reunião dos ministros da Fazenda (na reunião do G20)", informou.