O procurador-geral do Peru, Pedro Chavarry, demitiu na noite de segunda-feira os dois principais promotores do time que investiga o escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht, Rafael Vela e José Domingo Pérez, despertando protestos em cidades por todo o país. Os promotores serão substituídos por Frank Almanza e Marcial Paucar, respectivamente.
O presidente Martin Vizcarra criticou a ação, dizendo que a decisão interrompe o movimento de combate a corrupção liderado pelo governo peruano. “A luta contra a corrupção e impunidade é prioridade desse governo”, escreveu Vizcarra em sua conta no Twitter.
Dois dos cinco procuradores do Supremo chamaram a decisão de Chavarry de “sopro da morte” na luta anticorrupção e o instaram a revertê-la. No início de dezembro, a Odebrecht entrou em acordo com as autoridades locais para pagar uma multa de US$ 181 milhões e fornecer documentos sobre subornos feitos a funcionários do governo peruano, em acordo de colaboração premiada com o Ministério Público (MP) do país.
É de conhecimento público que executivos da Odebrecht distribuíram milhões em suborno em toda a América Latina para obter contratos lucrativos com os governos da região. No momento, o Ministério Público (MP) investiga todos os presidentes peruanos que governaram de 2001 a 2018 por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
A decisão de Chavarry despertou protestos na capital Lima e em outras três cidades. Com a bandeira peruana nas mãos, os manifestantes gritavam frases como “Fora Chavarry”.
O chefe do Ministério Público convocou uma coletiva de imprensa para anunciar sua decisão, mas não respondeu perguntas. Segundo ele, a demissão dos dois procuradores foi necessária para anular a indicação do chefe da equipe de investigadores. O afastamento põe em risco um acordo com a Odebrecht para participar da investigação que envolve aproximadamente 40 casos.
“Temo que a empresa brasileira recue dos acordos por não ter garantias sobre o que foi acertado com os promotores”, disse o procurador especial para o caso Odebrecht, Jorge Ramirez, em entrevista à uma rádio local.
Fujimori
O procurador José Domingo Pérez investigava a líder da oposição Keiko Fujimori (filha do ex-presidente Alberto Fujimori) por suposta lavagem de dinheiro, ao receber de forma indevida US$ 1,2 milhão da construtora brasileira em sua campanha presidencial de 2011. A líder do Partido Força Popular está em prisão preventiva por 36 meses desde outubro, enquanto seguem as investigações.
Pérez também investigava o ex-presidente Alan Garcia por possível recebimento de US$ 100 mil da Odebrecht e conseguiu que um juiz impedisse o ex-presidente de deixar o Peru.
Pérez retornou ao seu escritório na noite de ontem para garantir a segurança dos documentos dos casos que investiga. “Estou indignado, desapontado. Essa é uma decisão irregular, a luta anticorrupção será afetada”, afirmou. Fonte: Associated Press.