Estadão

Produção industrial acumula perda de 0,6% em três meses seguidos de quedas

O setor industrial manteve em fevereiro de 2023 o comportamento negativo que mostrou nos dois meses anteriores. As dificuldades enfrentadas pela indústria estão ligadas à demanda doméstica, mas também a problemas de acesso a insumos e matérias-primas, apontou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A produção industrial encolheu 0,2% em fevereiro ante janeiro, a mais acentuada para o mês desde 2021, quando encolheu 1,7%. O setor já vinha de quedas em janeiro (-0,3%) e dezembro (-0,1%). Nos três meses seguidos de retração, a produção acumulou uma perda de 0,6%. A última vez que a indústria tinha recuado por três meses consecutivos foi entre fevereiro e abril de 2021.

A indústria mostra menor ritmo neste início de ano, mas o resultado negativo não está espalhado entre as atividades investigadas, ponderou Macedo.

"Nos três meses que essa produção industrial mostrou queda, teve predomínio de atividades no campo positivo", ressaltou Macedo.

O patamar de produção prossegue em nível semelhante ao de janeiro de 2009. "O setor industrial está girando em torno do mesmo patamar nos últimos meses", resumiu.

Em fevereiro ante janeiro, houve perdas em 9 dos 25 ramos pesquisados. As principais influências negativas partiram das quedas em produtos alimentícios (-1,1%), produtos químicos (-1,8%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-4,5%). Na direção oposta, entre as 16 atividades em crescimento, as indústrias extrativas (4,6%) exerceram o principal impacto em fevereiro de 2023, após a expansão de 3,4% assinalada no mês anterior.

As explicações para os segmentos em queda passam por fatores conjunturais, mas também pontuais, disse Macedo. A taxa de juros em patamar elevado agrava o endividamento das famílias e encarece o crédito, prejudicando a demanda doméstica, aponta o pesquisador. A inflação e o contingente ainda elevado de pessoas desempregadas também desestimulam o consumo das famílias.

"Sob o ponto de vista da oferta, a questão da falta de acesso a determinados insumos e matérias-primas também afeta a produção desses segmentos", completou Macedo.

Entre os fatores mais pontuais atuando sobre a indústria em fevereiro estão as férias coletivas e paralisações em montadoras, que prejudicaram o desempenho da fabricação de automóveis. Outro exemplo foi o embargo às exportações de carne bovina brasileira após detecção de um caso de mal da vaca louca ter afetado a produção de itens alimentícios, setor que responde por cerca de 15% da produção industrial brasileira.

"A questão das exportações em função do mal da vaca louca tem impacto no setor alimentício, mas não é fundamental para o total da indústria", ponderou Macedo. "O setor de alimentos não recua tão somente pela carne bovina, outros produtos também afetam."

Além da produção de carne bovina, também houve impacto negativo em fevereiro da menor fabricação de carnes de aves, carnes de suínos, derivados da soja e sucos de frutas, especialmente de laranja.

"Por outro lado, a parte relacionada ao açúcar faz o movimento inverso, ela atenua essa perda que outros itens mostraram", apontou Macedo.

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