Estadão

Produção industrial recua em 14 das 26 atividades em junho ante maio, diz IBGE

A produção industrial ficou estável em junho ante maio, mas houve uma predominância de desempenhos negativos entre as atividades da indústria, disse nesta terça-feira, 3, André Macedo, pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao comentar os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF). Das 26 atividades pesquisadas pela PIM-PF, 14 registraram queda em junho ante maio.

Na passagem de maio para junho, os destaques negativos foram as quedas na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,8%); celulose, papel e produtos de papel (-5,3%), e produtos alimentícios (-1,3%). Segundo Macedo, a queda na produção de celulose se explica por uma parada de manutenção numa unidade específica, enquanto o recuo na produção de alimentos se seguiu a uma alta de 2,9% em maio ante abril.

Já o recuo de 3,8% na produção de veículos automotivos – primeira queda após avanços em abril (1,6%) e maio (0,3%) – traz consigo um dos entraves na recuperação da indústria em meio à crise causada pela covid-19. Com as cadeias globais industriais desorganizadas, inclusive por problemas logísticos, a falta de matérias-primas – como os microchips usados nos carros – vem atrapalhando a produção.

Segundo Macedo, o desarranjo das cadeias na indústria automotiva fica claro nas paralisações e reduções de jornada. Além disso, o setor automobilístico tem grande peso na indústria como um todo. Sozinha, a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias responde por de 10% a 11% da produção industrial nacional agregada, disse Macedo. Só que, ao demandar insumos de diversas outras indústrias, como metalurgia, outros produtos químicos, borracha, máquinas e aparelhos elétricos, o setor automotivo tem efeito ainda maior.

"Em diversos segmentos, há algum ponto de ligação com a indústria automobilística. As ramificações em outros setores ajudam no comportamento negativo predominante na indústria", afirmou Macedo.

"O que observamos, a partir do relato dos informantes, é que a dificuldade com o acesso a matérias-primas permeia diferentes segmentos industriais e ajuda muito a entender a redução do ritmo (da produção industrial)", afirmou Macedo.

<b>Comparação anual</b>

O crescimento de 12,0% na produção industrial em junho ante junho de 2020 foi acompanhado por 19 das 26 atividades pesquisadas pela PIM-PF, divulgada nesta terça-feira pelo IBGE.

Apesar da forte alta, André Macedo relembrou que todas as comparações do desempenho da indústria em meses do primeiro semestre de 2021 com iguais períodos do ano passado devem levar em conta a fraca base de comparação.

O período de março a junho de 2020 registrou o auge dos efeitos da covid-19 sobre a produção da indústria. No primeiro semestre de 2020, a produção industrial tombou 10,9% na comparação com os seis primeiros meses de 2019.

Mesmo assim, na comparação de junho último com junho de 2020, o destaque de alta foi a indústria automobilística – cujas fábricas praticamente paralisaram no auge da pandemia. A produção de veículos saltou 81,5% em junho ante junho de 2020, informou o IBGE. Além do setor automotivo, os melhores desempenhos na comparação com 2020 foram registrados na metalurgia (47,7%) e máquinas e equipamentos (52,5%).

Outros impactos positivos importantes foram assinalados pelos ramos de produtos de minerais não-metálicos (25,5%), de outros produtos químicos (13,1%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (54,0%), de indústrias extrativas (4,1%), de couro, artigos para viagem e calçados (53,8%), de produtos de borracha e de material plástico (13,0%), de produtos de metal (11,7%), de produtos diversos (44,1%), de produtos têxteis (28,8%), de outros equipamentos de transporte (37,2%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (2,1%) e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (13,3%).

Ainda na comparação com junho de 2020, na contramão, entre as sete atividades que apontaram redução na produção, produtos alimentícios (-7,3%) "exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pela menor fabricação dos itens açúcar cristal e VHP", diz a nota divulgada mais cedo pelo IBGE.

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