O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou suas projeções macroeconômicas diante do aumento da incerteza nos últimos dois meses, informa a Carta de Conjuntura 35. A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2017 ficou em 0,3% enquanto a de 2018 em 2,3%. Na Carta de Conjuntura anterior, o instituto previa crescimento do PIB em 0,7% neste ano e em 3,4% no ano seguinte. Apesar disso, o Ipea avalia que a economia brasileira manteve a trajetória de retomada gradual da atividade.
“Após o impacto inicial dos eventos políticos ocorridos em maio sobre a taxa de câmbio, as taxas de juros de mercado e os índices acionários, houve certa estabilização seguida de recuperação parcial dos preços dos ativos. A manutenção desta relativa estabilidade econômica permanece, porém, condicionada à evolução do quadro político”, diz a carta.
A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também mudou, passando de 3,9% para 3,5% neste ano e de 4,5% para 4,3% em 2018. “Em que pese o fato de que boa parte deste recuo veio por conta da forte queda nos preços dos alimentos (1,1% nos últimos 12 meses), a tendência desinflacionária é disseminada e se verifica em todos os demais itens que compõem o índice”, destaca a carta.
O Ipea avaliou que o cenário é de maior incerteza em relação à aprovação das reformas constitucionais ora em discussão no Congresso Nacional e já considerando os dados mais recentes de atividade econômica.
Segundo o instituto, alguns fatores podem ter contribuído para que, apesar das turbulências na esfera política, a situação econômica tenha se mantido sob controle. Entre eles, cita um cenário de economia internacional favorável, evolução favorável das contas externas brasileiras e a queda acentuada da inflação. Já na ponta negativa destaca o problema fiscal.
“É evidente que a situação crítica das contas públicas não tem como ser resolvida com medidas tradicionais de ajuste de curto prazo, mas é necessário que se vislumbre a factibilidade do ajuste de longo prazo proposto pelo governo. Por isso, a mudança recente do quadro político afeta diretamente o nível de incerteza em relação às projeções macroeconômicas”, diz a carta.
O Ipea destaca que esse aumento da incerteza tem impactos negativos sobre a retomada da economia, com destaque para o comportamento esperado dos investimentos. “Como é comum ocorrer em períodos de retomadas cíclicas, esperava-se que os investimentos fossem um dos principais drivers para o crescimento da demanda. Porém, esse componente do PIB é muito sensível ao nível de confiança sobre o desempenho futuro da economia”, diz.
A previsão para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida de investimentos no País) foi revisada da previsão de crescimento de 0,1% neste ano e de 8,5% em 2018 para queda de 1,9% em 2017 e alta de 3,3% no ano que vem.