Ao assumir a base comunitária do Jardim Vila Galvão, na praça Nossa Senhora Aparecida, o cabo Claudecir Pereira de Carmo da Polícia Militar percebeu que poderia aproveitar melhor o espaço e a relação esporádica mantida entre a corporação e crianças da região. Na época, havia o projeto Força Mirim, que reunia os pequenos do bairro para apresentações em desfiles e ensaios poucas vezes no ano. Mas era pouco.
Em 26 de agosto de 2010, há quatro anos, cabo Carmo, inspirado em um projeto que já existia no interior da Bahia, implantou – ao lado do pugilista Hamilton Geladeira, com quem já treinava boxe há quatro anos – o “Boxe na Praça – Polícia e comunidade lutando por um futuro melhor”. O projeto hoje é um sucesso de participação comunitária ao acolher crianças a partir dos 6 anos de idade que queiram aprender o esporte.
Desde o início do projeto, o comportamento da comunidade mudou em relação aos policiais da base. “Antes, achavam que polícia e população estavam em lados diferentes. Entendiam que a PM era um órgão repressor e agora eles sabem que nós fazemos parte da comunidade e estamos aqui para ajudar”, explica o cabo.
Até hoje o projeto já atendeu 212 crianças, boa parte delas que vivem na favela São Rafael, localizada bem próxima ao Jardim Vila Galvão. “Aqui todos são tratados igualmente, não há nenhum tipo de discriminação ou privilégio. A gente dá bronca ou elogia cada um conforme o merecimento, todos de maneira igual, sem qualquer distinção”.
Para participar, crianças devem ter bom comportamento e frequentar a escola
Para participar do Boxe na Praça, a criança deve frequentar a escola, ter um bom comportamento e não brigar dentro ou fora do estabelecimento de ensino. Neste sentido, o cabo Carmo é rígido. “Se chegar ao nosso conhecimento que qualquer regra foi quebrada o aluno sofre uma suspensão e pode ser desligado do projeto”, garante.
Cabo Carmo conta que os treinos de boxe servem para que os alunos aprendam a extravasar as próprias energias, além de respeitar os colegas. “Desta forma tornam-se menos agressivos e ficam numa atividade positiva, sem dar chances para eles entrarem no mundo da criminalidade”, afirma o policial.
Para manter o projeto, o cabo conta com o apoio da Polícia Militar. “Além de incluir esse período de treino no horário da corporação, tenho apoio dos colegas da base e dos comandantes que dentro do possível também ajudam. Contamos também com a colaboração de comerciantes locais e de outros bairros que se identificam com o projeto, além de amigos e pais dos alunos”, explica. Todos os materiais utilizados nas aulas, como luvas, manoplas e protetores, assim como os lanches servidos ao fim de cada treino, são doados pela comunidade.
Jovem já é promessa do boxe guarulhense
Caique Julião Reis, 16 anos, é um dos alunos que participam do projeto há mais tempo. Como é mais velho que os demais, é chamado pelas crianças de “Tio”, por atuar também como ajudante do professor. Ele já conquistou o título, em 2013, do campeonato “Forja dos Campeões”. Segundo o cabo Carmo, é uma das promessas do boxe guarulhense, já que tem o nome cotado para representar o Brasil nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.
O garoto treina três vezes por semana, além de cursar o 3º ano do Ensino Médio no período noturno. “Quero fazer faculdade de Educação Física para garantir o meu futuro. Se o boxe não der certo eu já tenho uma carreira”, afirmou.
“Nosso objetivo é formar bons cidadãos”
“Essas duas horas e meia que eles passam aqui é um tempo que eles não estão ociosos e perto de maus exemplos. Se ele vão se tornar pugilistas? Eu não tenho está preocupação, o objetivo é formar bons cidadãos”
Cabo Carmo