O promotor do GP do Brasil, Tamas Rohonyi, afirmou nesta segunda-feira que não vai aceitar passivamente a decisão da Fórmula 1 de não realizar uma corrida no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, neste ano. O objetivo dele é levar o caso até a Justiça da Inglaterra, país onde está localizada a sede da Formula One Management (FOM), empresa responsável pelos direitos comerciais da categoria. A prova teve o cancelamento oficializado na última sexta-feira usando o temor pelo novo coronavírus como justificativa.
Em entrevista ao <b>Estadão</b>, Tamas afirma que o argumento da pandemia não pode ser utilizado para cancelar corridas. Além do Brasil, no mesmo anúncio a Fórmula 1 excluiu do calendário as etapas nos Estados Unidos e México. "O contrato de promoção só tem uma única cláusula que permite o cancelamento: força maior. Tem de ser algo totalmente fora do controle das partes, como um avião cair com os carros, ou todo mundo desaparecer debaixo de um metro de água", explicou.
Nos últimos dias, o promotor do GP do Brasil está em contato com advogados europeus para avaliar uma forma de acionar a Fórmula 1 na Justiça. Segundo Tamas, os responsáveis pelo GP do México também estão interessados em recorrer da decisão e existe a possibilidade de se realizar uma ação conjunta, cobrando uma multa. Procurada pelo Estadão, a Fórmula 1 não retornou o contato.
O promotor afirma que, pelo contrato firmado com a Fórmula 1, em caso de cancelamento a categoria teria de ressarcir o prejuízo. Apesar de não revelar valores, Tamas disse que o impacto é muito alto. "É uma perda econômica brutal. É uma pancada no fígado muito grande", contou.
O GP do Brasil não chegou a abrir a venda de ingressos para 2020, mas tinha contratos em vigor com patrocinadores e fornecedores, fora a manutenção de pagamento aos funcionários.
Tamas contou que, para comunicar o cancelamento do GP do Brasil, a F-1 explicou que cinco equipes manifestaram a preocupação de vir ao País e de se expor ao risco de contágio ao novo coronavírus. "Isso é ridículo. Quem fez essa carta não sabe o regulamento de campeonatos. O contrato de promoção não diz que vai ter corrida só se as equipes quiserem. Uma equipe que não quiser ir para uma prova, ela não é obrigada. Só não vai participar da premiação e ativar patrocinadores", afirmou.
O cancelamento do GP do Brasil foi antecipado pelo Estadão em 8 de julho. A reportagem apurou que, apesar do comunicado oficial da Fórmula 1 ter sido divulgado só na última sexta-feira, a informação sobre a exclusão da prova já havia sido enviada a governantes brasileiros e à própria organização do GP. Para Tamas, a F-1 o tratou de forma desrespeitosa e demorou demais em oficializar o cancelamento porque esperou conseguir marcar outras provas substitutas no calendário, como em Portugal e na Alemanha.
"Eu fico chateado, óbvio, é que a impressão que se dá é que eles sabiam desde março sobre esse problema do cancelamento. Eles esperaram até o último minuto para comunicar somente alguns meses antes do evento. A impressão que se dá é que esperaram até última hora só para confirmar se conseguiriam fazer essas outras corridas de emergência", disse. "Fica preocupante o procedimento e atitude deles, pelo pouco caso com que tratam os promotores", afirmou.
Na opinião do promotor, o Brasil teria condições de receber a prova em novembro por ter estabelecido para competições locais um protocolo de segurança e pelo governos estadual e municipal preverem uma melhora na situação da pandemia nos próximos meses.
Questionado sobre qual seria o motivo para o cancelamento da prova, Tamas avalia que foi por fatores econômicos. O custo de transporte dos equipamentos se tornou mais caro durante a pandemia e, por isso, boa parte das provas confirmadas até o momento serão somente na Europa. Para esses destinos, as equipes conseguem se locomover com os próprios caminhões e dispensam o pagamento de fretes aéreos e até marítimos.
GP DE 2021 – A etapa paulistana tinha contrato com a Fórmula 1 para receber o GP do Brasil somente até o fim deste ano. Agora, para 2021, será preciso renovar e conseguir fechar um acordo principalmente sobre o pagamento da taxa de promoção. O intuito é convencer a categoria a aceitar o valor anual de cerca de R$ 100 milhões (US$ 20 milhões). A cifra é inferior á paga na média pelas demais etapas, estimada em R$ 182 milhões anuais (US$ 35 milhões).
Mesmo com críticas à decisão da Fórmula 1 e com o firme propósito de acionar a Justiça, Tamas descarta que isso possa atrapalhar o ambiente na negociação com a categoria. O promotor cita, inclusive, já ter recebido na própria casa em ocasiões anteriores o chefe da F-1, Chase Carey, e manter com ele uma boa relação.
"O que eu aprendi com o Chase Carey é que ele é muito frio e profissional. Ele não vai misturar as situações. A negociação continua e avançou muito bem. Eu acho ainda que ele vai chegar à conclusão que a ideia de correr no Rio é uma fantasia", disse.
Porém, o promotor do GP do Brasil descartou desta vez estabelecer um prazo para o desfecho do acordo. "Todas as negociações que ele (Chase Carey) fez até hoje, foram fechadas no último minuto", comentou.
Como o Estadão publicou em 30 de junho, a candidatura do Rio encaminhou um acordo com a Fórmula 1 para receber o GP do Brasil a partir de 2021. A proposta é de repassar à categoria cerca de R$ 340 milhões anuais entre taxa de promoção e receita com a venda de ingressos VIPs.