Cidades

Propagação de boatos revela a pior face das redes sociais

Não é de hoje que o boato – uma informação desprovida de comprovação de sua veracidade – serve para propagar notícias fantasiosas que, tirando raras exceções, servem para denegrir imagens e reputações de pessoas públicas ou não, além de disseminar o pânico e o medo na população. Com o advento das redes sociais, que aceitam qualquer tipo de informação (verdadeira ou não), a boataria passou a tomar corpo e uma grande velocidade de expansão. 
 
Guarulhos vive, desde a semana passada, uma grande e perigosa onda de boatos. Principalmente disseminado via WhatsApp, um importante dispositivo de comunicação que facilita as relações humanas quando usado pelo bem, passou a circular em grupos de amigos ou vizinhos em bairros da periferia da cidade a informação de que um casal estaria sequestrando e matando crianças para extrair os órgãos ou então para “contrabandeá-las” ao exterior. 
 
As mensagens de áudio – são diversas que circulam – contam com riquezas de detalhes como este suposto casal, que já teria agido em outras regiões do Brasil, aborda as famílias dentro de suas casas para depois levar os filhos embora. Até alguns estabelecimentos comerciais são citados para dar maior veracidade à informação. Quem conta o “causo”, geralmente, demonstra ter grande conhecimento sobre o que diz. É convincente. E alerta as pessoas a tomarem cuidado. 
 
Em poucos dias, novas mensagens em áudio e texto foram espalhadas nas redes sociais, o que fez com que os boatos ganhassem ares de verdade. Ninguém sabe, ninguém viu, mas todos garantem que é a mais pura verdade. Para dar mais emoção aos casos, as mensagens passaram a ser acompanhadas de fotos do tal casal. Uma mulher loira e um homem de cavanhaque aparecem como os “bandidos” da história. Citam que são os mesmos que já foram vistos em outros lugares e que agora agem em Guarulhos. Uma lista de bairros é passada para que todos tenham o máximo de cuidado. 
 
O GuarulhosWeb, que também recebeu essas mensagens falsas, foi atrás das autoridades da região para saber se há algum registro que possa dar margem a qualquer informação distribuída nas redes sociais. Porém, não existe qualquer registro nem na Polícia Civil nem na Polícia Militar. O Instituto Médico Legal, que deveria receber os corpos dessas supostas vítimas, também não tem casos registrados nos últimos dias em Guarulhos ou região. Ou seja, seria impossível que diversas crianças tivessem sido assassinadas com requintes de crueldade – ou mesmo raptadas, como mencionam alguns áudios – sem que ninguém fizesse um registro policial. 
 
Mesmo assim, apesar da comprovação de que os boatos não têm qualquer indício de veracidade, muitas pessoas contrapõem as notícias publicadas pelo GuarulhosWeb com mensagens do tipo “onde há fumaça há fogo” ou ainda “sei não, minha amiga disse que uma prima de uma vizinha garante que no bairro dela aconteceu exatamente assim”. Há ainda pessoas que garantem ter visto o tal casal em sua rua ou região. 
 
O GuarulhosWeb mantém sua postura de divulgar a verdade, apoiando-se em fatos e nas declarações oficiais das autoridades, sem – no entanto – deixar de levar em consideração o que pensa a sociedade. Neste caso, é importante salientar o papel da imprensa séria no sentido de impedir a proliferação de informações falsas que têm por objetivo disseminar o pânico e o medo na população. 
 
O suposto casal que aparece nas fotos, que não é identificado, corre o sério risco de estar passando por um processo de linchamento moral, com a possibilidade de vir até a sofrer algum tipo de violência física. No ano passado, uma mulher foi linchada e morta em uma favela do Guarujá, no litoral paulista, após uma foto dela ser divulgada em um grupo do Facebook como a possível autora da morte de crianças.  
 
Manter a vigilância sobre os filhos, como pregam as mensagens, deve ser uma atitude permanente de todos para evitar que sejam vítimas dos mais diferentes tipos de atrocidade. Isso deve ser prática diária e não apenas em virtude do pânico causado por quem dissemina os boatos. 

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