Mais de dois milhões de eleitores deram a vitória ao “não” no referendo sobre a independência da Escócia. Com a apuração de 100% votos, o movimento pela permanência do país no Reino Unido conseguiu apoio de 55,3% dos eleitores. O grupo pela independência e que defendia o “sim” nas urnas obteve 44,7% dos votos. Portanto, a união política de 307 anos entre Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte continua. A crescente pressão dos separatistas, porém, deve mudar o jogo de forças na política britânica.
Dados finais divulgados nesta manhã mostraram que 2.001.926 eleitores apoiaram o chamado movimento “unionista” que defendia a manutenção dos escoceses no Reino Unido. Eram necessários 1.809.958 votos para a vitória no referendo. O grupo independentista teve quase 400 mil votos a menos que o movimento do “não” e somou 1.617.989 eleitores.
Após as últimas pesquisas eleitorais mostrarem disputa acirrada entre os dois grupos – inclusive com ligeira vantagem dos separatistas há pouco mais de dez dias, o resultado final aponta para eventual migração de eleitores do “sim” para o “não” na reta final da campanha. O movimento já havia sido sinalizado pelo instituto YouGov na pesquisa realizada durante a quinta-feira, dia do referendo. Esse movimento teria acontecido após a reação das principais lideranças políticas britânicas e o esforço suprapartidário pela manutenção da Escócia no Reino Unido.
O primeiro-ministro da Escócia e o principal líder do “sim”, Alex Salmond, reconheceu a derrota no fim da madrugada, pediu união e cobrou de Londres a devolução de mais poderes ao país como prometido durante a campanha. Salmond argumenta que a elevada participação popular e resultado considerável do “sim” darão ainda mais legitimidade às demandas dos escoceses.
Promessas
Em Londres, o primeiro-ministro David Cameron reafirmou a promessa de devolver poderes a Edimburgo. “Nós entregamos uma proposta de mais poderes para a Escócia e vamos executar na próxima legislatura. Vamos garantir que esses compromissos sejam entregues na íntegra”, disse ao informar que o projeto deve ser conhecido em janeiro e já foi escolhido um nome para coordenar os trabalhos.
Cameron também citou que a Inglaterra, o País de Gales e a Irlanda do Norte também devem ter mais voz no debate a partir de agora. Disse, porém, que com o resultado das urnas o assunto escocês está resolvido “por uma geração”. “O tema foi resolvido para uma geração ou como disse Alex Salmond talvez para uma vida inteira”, disse o primeiro-ministro.
Apesar de a formação do Reino Unido seguir intacta, não pode se dizer o mesmo do tabuleiro político. A concorrida corrida eleitoral revelou a insatisfação dos eleitores escoceses com o gradual distanciamento de Londres da União Europeia e as políticas austeras do governo conservador de David Cameron, de centro-direita. O oposicionista Partido Trabalhista, de centro-esquerda, pretende abocanhar parte da insatisfação e tentará atrair independentistas.
Enquanto é incitado a dar mais poderes para a Escócia, Cameron também tem de lidar com a pressão de parte do eleitorado conservador da Inglaterra que cobra medidas contra a imigração e pede o afastamento dos britânicos da União Europeia. Em meio a essas pressões dicotômicas, analistas dizem que é possível que vozes insatisfeitas da Irlanda do Norte e do País de Gales também passem a fazer mais barulho.
Demandas tão distintas e o novo jogo de forças políticas terão como palco principal as próximas eleições gerais que acontecerão em maio de 2015. Entre os grandes temas polêmicos já incluídos por alguns partidos no debate está a polêmica proposta de o Reino Unido realizar um referendo sobre a permanência do país na União Europeia em 2017. Pelo visto, a polêmica só está começando na Grã-Bretanha.